quarta-feira, 5 de janeiro de 2022

SAPINHAUÁ NO ACARAÚ

Canto do Acaraú - Ubatuba - 1961  (Arquivo Igawa)


           "Onde? No Canto do Acaraú? Não acredito, pai!".  Pois é, minha filha. A imagem é sim do Canto do Acaraú, onde hoje é só fedor por causa do esgoto que sai por ali, pelo rio Acaraú. Todo esgoto coletado na Praia Grande, Itaguá,  Estufa e adjacências ganham o mar naquele canto da praia. Na imagem estão nipônicos e/ou descendentes; catam sapinhauás na maré vazia. Toda a Praia do Itaguá, desde a Barra da Lagoa até a Barra do Acaraú, tinha demais, bem como o Perequê-açu, Enseada, Maranduba e outras. Coisa mais comum era gente juntando esse molusco, o tal sapinhauá tão apreciado na culinária caiçara.  E não é de hoje! O sambaqui do Tenório, anterior ao povo Tupinambá, comprova que a gente daquele tempo já tinha sapinhauá na dieta.


       A imagem a que nos referimos foi feita pelo Sr. Igawa, por volta de 1961. Na época, ele tinha a salga (Iwashi) bem ali, junto ao Acaraú. Aquele mundaréu de gente, assim como a meu povo caiçara, adorava frutos do mar, peixes etc. Vez ou outra, eles vinham em excursão para Ubatuba, a convite do Velho Igawa. Ainda hoje a propriedade está com a família. Seu filho Nelson tem no local uma área de camping. 

      Diante da referida imagem, vá até o Canto do Acaraú e sinta a diferença. Muitos chamam isso de progresso. E você? Será que não passa da hora de "pegar mais pesado" com o poder público e de ter novas atitudes, comportamentos preservacionistas etc? Afinal, estamos vislumbrando não apenas a morte desses seres que compartilham o mesmo ambiente, mas também a dos seres humanos. As medidas adotadas por cada um de nós ajuda, mas é preciso desacomodar as massas. Mais  à frente, conforme disse alguém, "quando a história for escrita como deve ser, os homens ficarão admirados do comedimento e da grande paciência das massas, e não da sua ferocidade".

    O primeiro passo é acreditar, de fato, que a natureza é a nossa  "galinha dos ovos de ouro". Não conhece a fábula?  Quem a escreveu foi Esopo, um grego da Antiguidade. Resumindo, trata-se de alguém que tinha uma galinha que botava ovos de ouro. Por cobiça, ele raciocinou:  "Deve haver dentro dela um tesouro para ela botar ovos de ouro". E assim matou a galinha.  Só que não, né? Por dentro, ela era como qualquer outra galinha. Mas já era tarde. Ele perdeu a fonte de riqueza que tinha em casa.

  Assim vamos testemunhando em nossa cidade com a morte da natureza.


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