Cadeia pública, hoje museu municipal, na Praça Nóbrega - Arquivo Ubatuba |
Doutor Esteves da Silva, carioca que escolheu viver em Ubatuba, era médico e deputado. Na última década do século XIX, escreveu:
Os ubatubenses descendem de portugueses, do indígena e do africano: mestiços onde predomina o elemento caucáseo ou o autochtone, herdaram a robustez orgânica, o amor à família, e a crença religiosa do vigoroso lavrador lusitano, a sagacidade e a resignação do índio brasileiro.
Nas suas condições éthinicas deparamos com qualidades tão apreciáveis, nas manifestações moraes com tantas provas de afeição pura e cordial; nas emergências da vida vimos fulgurar-lhes uma certa sensatez, um discernimento recto, uma tenacidade tamanha que, não obstante a simplicidade, quase poderíamos dizer bíblica, que transparece como elemento natural do espírito de grande parte da população do campo, tudo denota um povo viril, apto a um futuro de progresso, digno da sociedade paulista, honroso fator da comumnhão brasileira.
A ingenuidade original de suas aspirações limitadas a um presente precário symbolisa a comsequência forçada de circunstâncias mesológicas anteriores, onde a tradição de um remoto espírito de resistência de nossa população do campo a toda novidade que destruísse hábitos atávicos, se imiscuía com a proverbial indolência do proletário desalentado, títere da poderosa vontade dos plutocratas do interior, pervertido pela criminosa adulteração do senso moral introduzida nas classes submissas pelos dominadores dos antigos latifúndios, verdadeiro feudalismo de tempos que já se foram, graças ao influxo bemfazejo e reabilitador de uma idéa nobilíssima, a emancipação do elemento servil.
Não se pode comprehendel-o como um povo onde sobrepuja a imbecilidade, como uma raça de cretinos, porque taes degenerações são incompatíveis com a emoção vivaz e impetuosa diante de grandes idéas; e não correria em contingente numeroso a oferecer voluntariamente a vida em holocausto à Pátria durante a campanha do Paraguay, como fizeram os ubatubenses em repetidas dezenas de seus homens válidos, cujas ossadas jazem em plagas longínquas, pois só bem raros volveram a seus lares, e esses poucos atestam as honrosas insígnias dos bravos nas cicratizes que os engradecem.
Com a lei do Rio Branco fez reluzir no céu brasileiro os primeiros albores de uma nova era para os captivos de um preconceito, víctimass de um crime social, os escravos, comoveu-se este povo e as libertações se succederam tão repetidas e numerosas que a lei áurea de 13 de Maio quase não encontrou a quem iluminar coração e inteligência com as fulgurações da Liberdade.
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