Dia festivo na escola das Madres Agostinianas (Arquivo Ubatuba) |
Bernadete estudou na A.L.A (Assistência ao Litoral de Anchieta), da Congregação das Cônegas de Santo Agostinho, em Ubatuba. Também lá estudou a Neide, a Ângela, a Nadir, a Verônica, a Beth e tanta gente a mais. Funcionava como semi-internato àquelas meninas caiçaras de pontos mais distantes do centro da cidade, onde faltavam até estradas. Esse apoio fundamental existiu por toda a segunda metade do século XX, com algumas religiosas se projetando mais do que outras na vida social local (Madre Glória foi um grande exemplo), mas todas muito dedicadas à educação. Quantas meninas das muitas famílias caiçaras foram acolhidas ali, puderam estudar e receberam noções de cidadania mais abrangentes!? Vale a pena uma pesquisa a esse respeito. Ainda hoje temos enfermeiras e artistas daquele tempo, frutos daquele espaço de formação, mas já aposentadas.
A A.L.A era um educandário, com aulas de cerâmica, tear, artes, música etc. Tudo isso ocupava praticamente meia quadra, na Rua Gastão Madeira, onde atualmente está a Escola Olga Gil, a Secretaria da Educação e não sei o que mais. Era um lugar agradável demais! Posso garantir, pois passei inúmeras vezes por lá para visitas rápidas às parentes acolhidas pelas Madres.
Hoje, Bernadete depois de uma vida de muito trabalho, já é falecida; apenas seus filhos e netos estão por aí, mas nem sei como lidam com o pertencimento à cultura caiçara. Pode ser que nem pensem mais nisso. Mas...aqui vai uma carta da jovem Bernadete:
Estou bem aqui, mas com saudades sempre de casa, do quintal cheio de criação, da roça e do mar; de encontrar sempre com vocês na praia. As madres nos tratam bem, demonstram amor, mas são severas nas regras. Há vários momentos de oração, de estudos e de trabalho. Assim, aquele amor do ambiente familiar vai se espalhando. Passei a reparar e admirar atitudes entre pessoas que não se conheciam: gestos de amizade, palavras brotando do coração, preocupação pelos mais próximos... São atitudes que me fascinam, me levam a acreditar ainda mais no amor. Que isso possa se multiplicar, ser apresentado como primeiro passo para um mundo melhor. Eu espero, por toda a minha vida, fazer uso do amor exageradamente, tal como os meus pais demonstraram desde quando eu nasci. Esta obra da madres, sem dúvida alguma, é reflexo de gente que quer expandir o que há de melhor na humanidade. Que essa Congregação e essas madres sejam fortes e sigam assim servindo aos mais pobres, ao meu povo caiçara. Acredito que tudo de bom que eu aprender aqui irei levar à minha família e a mais gente. Abraços meus a todos. Com saudades.
Carta preciosa, Zé! É parte do seu acervo?
ResponderExcluirObrigado, amigo. Sim, achei sem querer. Até tinha me esquecido dela.
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