sábado, 1 de maio de 2021

PESCA DA CORVINA

 




Boca da barra - rampa das canoas (Arquivo Ubatuba)

      Vez ou outra me dá uma saudade das prosas com a Fátima. Então recorro ao seu valioso registro em Arrelá Ubatuba, um livro simples, mas preparado com grande carinho. Que valorosa caiçara, da estirpe do João de Souza e dona Maria!  
     Depois dessa pandemia, caríssima, haveremos de rir bastante de tantas coisas que guardamos em nossos Saco de Causos. Por enquanto, permaneçamos entocados: eu no Ipiranguinha e você no Sumidouro. Longa vida e prosperidade, irmã!
   

     Nos anos quarenta o mundo se via às voltas com a segunda guerra mundial. Por aqui, isso era conversa para intelectual e político que sabia ler e escrever.
     O dia estava amanhecendo. Depois de pescar a noite toda, já era hora de regressar. A canoa abastecida de corvina deixava meio desanimados os dois pescadores que torciam pela pescaria de outros peixes de melhor aceitação, uma vez que a corvina era tanta que ninguém mais aguentava nem ouvir falar sobre ela.
    Estavam lá pela Ilha das Couves, lugar de peixe grande e de mar perigoso. Tibúrcio, que remava na proa da canoa, gritou ara o companheiro:
  - Marciano! Olha a tintureira! Se deite na canoa que ela tá vindo pra cima de nós!
  Foi então que o mar se abriu, jogando água para todos os lados. Tibúrcio também se jogou para o fundo da canoa, com medo que esse medonho cação o visse, uma vez que acreditava que a tintureira caça as suas vítimas pela sombra refletida na água. Como que por milagre, um enorme peixe de aço boiou na frente dos dois. Era um submarino japonês.
  Do casco do submarino abriu-se uma escotilha. Um homem apareceu e começou a acenar para os amedrontados pescadores. Não vendo resposta, gritou em japonês:
  - Banzai san!
  Marciano passou a mão num peixe, ergueu-se na canoa e gritou de volta:
  - Só tem corvina.

Um comentário:

  1. Gosto muito dos causos da Fátima. Usei um deles (Água pro Otávio) no vestibulinho do Tancredo.

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