Prosa no jundu (Arquivo JRS) |
Continuando nas veias poéticas do Santiago...
O velho caiçara estava ali... E eu...
...Sentado num toco, escuto, distante, ondas de uma maré antiga ecoando no meu silencio e nas cavernas de corais dentro do grande, imenso mar do tempo:
Si o moço qué sabe
eu vou conta pro sinhô
Eu nasci debaixo dessas arvres
lá bem perto do marzão
Aprendi desde cedinho
a ter calos nas mão
Antes eu era pescador
de rede, canoa e remo
levantava antes do sol
pra pescá o pexe bão
Era simples e tranquila a vida
mas fácil não era não,
mais nóis tinha o que precisava
e não era muito não
Mas bastava e nóis sabia
que era feliz e hoje nóis não é mais não
E então chegou a estrada
cortando as terra desse chão
como um rio de asfarto
dividindo nossas vidas
separando o mar do sertão
E chegou as casa grande do povo da capitá
invadindo nossas praias e cercando nossas trilhas
com arame, farpa e mourão
e eu que era pescador
hoje já não sei o que sou
pois as casas pequeninas de bambu barro e sapé
foro tudo derrubada
prá levantá os casarão
dos que vinheram de longe
ocupá o nosso chão
e nos rancho abandonado
os petrecho apodreceram sem ter mais uso não
coisa triste de se ver
As canoa encostadas sem voltar mais pro marzão
Prometeram tanta coisa
vida boa e trabaio, casa, escola, leite e pão
mas cumpriram nada não
Foram derrubando as mata
arvre grande e pequena foi tudo pro chão
e a gente nem podia
rancá um pé de ingá, cedro , canela ou guapuruvu
prá fazê uma canoa pra gente podê pescá
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