Morro do Perequê-mirim (Arquivo Ubatuba) |
Em um dia distante, bem na curva da estrada nova, Manelão e outros estavam descansando, no horário de almoço. Logo ali, na Enseada, era o acampamento, onde se concentrava o maquinário e ferramentas. Chico Simão era o responsável pelas dinamites que estouravam pedras do traçado. Um morro, na Ponta do Perequê-mirim, perto de onde morava o Antônio Julião, teimava em continuar deslizando.
- Eu recomendo - disse Manelão - que seja retirada essa última carrada e depois plantemos bambu. Planta boa, logo vira touceira e segura tudo o que for descendo aos poucos. Depois, com terra parada, outras árvores nascerão e crescerão.
E assim foi feito não só ali, mas por todo o trajeto, onde cismavam que havia necessidade de segurar a terra e garantir a rodovia funcionando. Ao passar na estrada que liga Ubatuba a Caraguatatuba, reparo nos lindos bambuzais e penso na importância de dar atenção às opiniões dos trabalhadores. Além de enfeitar, esses detalhes naturais cumprem importante função.
Justo Arouca escreve que, em 1956, antes de enfrentar o Morro do Maciel, na Enseada, foi autorizado a construção de um acampamento com estrutura capaz de atender as necessidades da administração geral da já citada rodovia. Foi onde ocorreu um grande incêndio, quase virou tragédia para os funcionários acampados e aos caiçaras que tinham moradias próximas. "É que um caminhão tanque do próprio DER, carregado com dez mil litros de gasolina pegou fogo, em pleno pátio de abastecimento, em cima de um reservatório subterrâneo com mais de cinco mil litros de combustível. Não havia bombeiros e os extintores foram poucos para debelar as primeiras chamas. Outros tanques enormes para armazenamento de óleo diesel, também pegaram fogo, o mesmo acontecendo com dezenas de tambores de óleos lubrificantes. Com o aquecimento explodiam e expeliam sua tampas para o ar levando chamas que pareciam fogos de artifício; o líquido ardente esparramado pelo chão aumentava o facho ardente. O caminhão-tanque, as máquinas de abastecimento e todo o aparelhamento usado no posto ardiam em chamas e lançavam no ar rolos de fumaça que era vista desde o centro de Ubatuba, distante oito quilômetros".
Hoje, bem de manhãzinha, pensei nisso tudo. Me recordei de tantos trabalhadores que conheci dessa empreitada (Vitor Mendes, Dito Socca, Domingos Socca, Chico Simão, Manelão, Domingos Barreto, João de Souza, Jovelino, Arcendino...). Toda essa gente trabalhou sob condições difíceis para que pudéssemos ir mais facilmente de uma cidade a outra!
Nenhum comentário:
Postar um comentário