Dona Idalina,a escritora caiçara de antigamente (Arquivo Ubatuba) |
Minha garotinha veio ao mundo a 20 de junho
de 1932. Era uma manhã maravilhosa. E quando a Gil, introduzida no quarto pela sua
mãe, aproximou-se do leito e contemplou o entezinho que viera do céu como um
presente divino, comovida disse:
- Nossa Senhora escutou meu pedido, não foi,
dona Idalina?
- Sim, querida! Você vai ser a madrinha! E
chamando para meus braços a mais querida amiguinha da minha mocidade, apertei-a
chorando de alegria.
Maria Terezinha tornou-se rainha do nosso
lar. Pouco depois de seu nascimento estávamos, porém, em plena Revolução
Constitucionalista e isso me preocupava pois, na Enseada, não se encontrava
alimentação apropriada para o bebê, em substituição à falta de leite materno.
As mulheres que podiam amamentar a minha filhinha haviam fugido para o mato,
com medo dos legalistas. Não podíamos fugir. Assim, assisti, aterrorizada, ao
lento definhar do meu anjinho, e, quando me foi permitido procurar recursos, já
era tarde! Em certa manhã chuvosa, a 20 de dezembro daquele mesmo ano, o
Senhor, Luz Imortal da Verdade, achou que devia reaver o anjo! Vi meu marido
alucinado, não querendo deixar partir o caixãozinho branco, carregado pelas
meninas da vizinhança. Lembro que não chorei, mas senti que uma parte de mim
mesma, a melhor de todas, se fora para sempre. Quedei-me vazia e nula! Gil não
me abandonou. Mais tarde, Albino contou-me que a minha amiguinha, sem perguntar
coisa alguma a ele, juntou toda a roupinha da afilhada e, chorando, abraçada a
elas, levou-as para guarda-las em sua casa, com o fito de me poupar maiores
sofrimentos.
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