Morreu na contramão atrapalhando o trânsito (Arquivo JRS) |
Canários -da-terra moravam nas árvores da minha infância. Amarelos, cabeças vermelhas, eram também conhecidos como "cabecinhas de fogo". Aos poucos foram sumindo. Pensei que haviam nos abandonado. Definitivamente. De medo. Para sobreviver. Teriam ido para longe dos homens... Bachelard, falando sobre sua experiência com um pássaro que havia feito um ninho em seu jardim, nos descreve a nós como aqueles que perderam a confiança dos pássaros. E com razão. Tantas coisas horríveis lhes fizemos. Nos meus dias de infância, o esporte favorito dos meninos era matar passarinhos com estilingue, pelo puro prazer de matar. Ou engaiolá-los. Há uma canção de Chico Buarque sobre a passarada em que a alegria é sempre interrompida pelo refrão "...O homem vem aí, o homem vem aí". Mas os pássaros estão voltando [...] Vi, nas montanhas de Minas, um espetáculo maravilhoso que nunca imaginei que existisse: bandos de mais de 50 canários-da-terra voando. Isso me deu alegria e esperança.
Ele estava certo: os canários-da-terra voltaram. Mas sabe por que eles agora se mostram pelos nossos caminhos, nos loteamentos? A razão é a aprovação de leis que os protegem e que pune aquelas pessoas que insistem em engaiolá-los. Dias desses, sabendo que é contravenção, que o policiamento funciona, escutei alguém alertando um "cabeça-gorda" que se deleita em ver pássaros presos: "Cuidado, os hómi vem aí".
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