sábado, 31 de outubro de 2020

DEIXA ESTAR

Uma das praias de Ubatuba (Arquivo JRS)

 


                Sigo pela rodovia em direção ao Vale do Paraíba. Logo depois da serra, nas cercanias da cidade de Paraibuna, assim que o sol já iluminava tudo, avistei uma edificação com uns dizeres relativos a crédito de carbono. Pelo que estava escrito, uma empresa francesa, montando aquilo ali, poderia continuar poluindo em outro lugar. Ou seja, ali, na Mata Atlântica, se adquiria crédito para justificar a morte de outros ambientes mundo afora. “É certo isso?”, me perguntou o tio Tonico.

                Agora deixo as estradas, os lugares mais longes... Me volto às proximidades, ao meu entorno. Entulhos em praças públicas, carros velhos abandonados pelas calçadas, sacolas plásticas enfiadas nos entremeios das plantas. Até roupas encontro no meu canteiro na beira do muro. Brincou o Ditão um dia desses: “Você viu que tem cueca, calcinha, camiseta, boné e até um vestido chique adornando as suas coroas-de-cristo?”.

                Que falta faz uma boa educação! A quem interessa uma escola assistencialista? Onde vai parar uma educação escolar destratada por governantes que vivem desmerecendo alunos e professores? O Brasil, segundo informação recente, há um ano não tem multa ambiental sendo cobrada, mas nós vemos por todo lado as irregularidades acontecendo cada vez mais.

                Por tudo isso e muito mais, vivemos uma crise civilizatória no Brasil, no nosso país. O ódio é honrado em discursos. Paulo Freire, uma referência na educação escolar mundial, é preterido  -  e perseguido! – por um doente chamado Olavo de Carvalho, o guru do presidente do momento. Impera a lei do menor esforço, de se aproveitar de quem trabalha para acumular mais e mais. Por isso prevalece essa mentalidade de jogar trastes por cima do muro alheio, abandonar carros velhos, sujar praias e rios, fazer de tudo para adquirir os tais créditos de carbono etc. Tempos atrás, chegando de uma viagem à França, assim se expressou o Jacques: “Os franceses são civilizados. As cidades são limpas e lindas. Você precisa ir ver a realidade deles um dia, Zé”. Não teve como eu não rebatê-lo: “Eu sei disso, mas na terra dos outros eles continuam sendo civilizados?”. E o que dizer desses nativos da nossa terra, da nossa vizinhança seguindo os péssimos exemplos dos exploradores? Mamãe, que escutou com atenção a leitura deste, só disse isto: “Deixa estar, Zezinho. Você verá onde vai chegar tudo isso”.



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