Tiribas na palmeira, no quintal de casa (Arquivo JRS) |
À mesa de todos deste chão
caiçara, em outros tempos, o palmito estava sempre presente na alimentação.
Mamãe refogava com uns temperos e estava pronto. Eu não sei dizer se havia quem não gostasse dessa
delícia das nossas matas. Era palmito da jiçara, a mesma palmeira que fornecia
ripas para a construção de casas.
A jiçara chama atenção de longe.
Passando pelas rodovias que servem ao município, a minha atenção por elas é
constante. Os seus frutos, além de servirem aos passarinhos, também são, desde muito
recentemente, coletados para extração de uma bebida comparável ao açaí, outra
palmeira, abundante da região Norte do Brasil.
Se deve, sobretudo aos pássaros, a semeadura da jiçara. No meu quintal
mesmo muitas mudas já apareceram. Algumas delas estão crescendo ali, entre
outras frutíferas; outras eu doei para pessoas amigas com áreas maiores de
plantio. É isto: as aves e animais fazem a parte deles desde que o mundo é
mundo. Nos dias atuais é urgente fazermos a parte que a nós cabe.
Houve um tempo, na década de
1970, que apareceram por aqui as empresas enlatadoras de palmito. No bairro
Mato Dentro, no terreno onde hoje funciona um grande depósito de materiais de construção, se instalou a fábrica de conservas Auricchio. Permaneceu ali por mais de
década. Desse tempo nos vem a figura do palmiteiro, ou seja, o trabalhador do
palmito, aquele que rompia a mata pelas antigas picadas ou fazia novos traçados
no relevo para localizar, derrubar as jiçaras e trazer seus palmitos. A chegada das estradas, o melhoramento dos acessos permitiu que equipes entrassem mata
adentro para movimentar um setor específico do ramo alimentício. De Ubatuba, de toda a área do município,
milhares de jiçaras foram abatidas. Ainda bem que, na década de 1980, uma onda
ambiental colocou foco na Mata Atlântica! As empresas contratantes de palmiteiros
passaram a ser multadas pela devassa da espécie
jiçara. O policiamento ambiental foi intensificado. Ainda bem!
Muitos caiçaras eram intimidados
quando procuravam conversar com os palmiteiros para impedir os cortes em suas
áreas. Esses trabalhadores tinham a concepção que, independente de onde
estivesse a palmeira, eles podiam adentar e tirar o palmito, pois eram remunerados para isso. Houve conflitos
sim. De vez em quando se ouvia notícias de brigas, de um querer cortar o outro com facão. Mas os
nativos sempre se manifestaram porque se alimentavam do palmito e sabiam da
importância de seus frutos aos pássaros e animais roedores.
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