Semente na areia (Arquivo JRS) |
ASSOMBRAR QUEM ASSOMBRA
Meu marido conta que, na fazenda
onde morou, foi atormentado várias noites por uma assombração. Ele dizia que
todas as noites, quando deitava, era só apagar
as luzes que vinha uma coisa arrastando os chinelos. E escutava o
barulho da fechadura da porta mexendo e a porta se abrindo e encostando até o
canto. Ele ficava apavorado, tirava as mãos para fora do cobertor, tentava
tocar na coisa e não achava nada. Ele cobria a cabeça e sentia uma coisa
puxando seu cobertor. Ele puxava e a coisa também puxava. Ele ficava apavorado
e começava a rezar a oração do Credo para espantar a coisa.
Era
só começar essa oração que a coisa ia embora e ele pegava no sono.
Um
dia ele teve que viajar e o irmão dele dormiu na fazenda. À noite, o rapaz
colocou o colchão no chão e foi dormir sem saber de nada. Foi só ele deitar...
Apagou a luz, ficou quietinho, cobriu-se e, de repente escutou um barulho
estranho de alguém arrastando chinelo. Ele nem aí para aquele barulho. A coisa
mexeu na fechadura da porta, ele escutou a porta abrindo e a assombração já
chegou puxando ele pelos pés. Ele ficou tão apavorado que só sabia xingar.
Xingou a assombração de tudo que foi nome, só não chamou de santo. A
assombração foi embora e ele ferrou no sono.
No
dia seguinte ele contou para o irmão o que tinha acontecido. O irmão que tinha
voltado da viagem, respondeu: “essa coisa estava precisando ouvir poucas e boas
de alguém corajoso como você. Parabéns, você espantou a coisa para sempre com
seus palavrões”.
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