terça-feira, 6 de outubro de 2020

O AMÁVEL


 

Dobraduras da Maria Eugênia (Arquivo JRS)

                Bidico, que tinha casa no caminho para o sertão, na direção da sede da Fazenda da Caixa, estava por ali. Era dia quente, de sol ardido, ideal para pescar traíra na várzea de tanta taboa e caxeta. Eu estava sem pressa; por ali fiquei na prosa, assistindo a pescaria dele. Logo havia enchido um balaio com traíras e acarás. O meu intento naquela tarde era chegar até onde morava o saudoso Leopoldo, o patriarca daquele  pessoal todo, o Cacique da Fazenda; pretendia umas informações a respeito do Caminho do Corisco que liga aquele sertão ao município de Paraty. Dei sorte. Na ocasião, soube do Amave (Amável) pelas palavras do estimado líder caiçara que há tempo nos deixou.

                Amave era daqui mesmo, ainda parente nosso. Na verdade, primo por parte de mãe. Assim que ele nasceu, logo ali, pelas mãos da parteira Tiana, foi preciso ir até a cidade para fazer o registro. Quase sempre todo mundo, quando tinha precisão, ia a pé essa distância. Hoje tem o barco do padre que ajuda muito. Toda semana ele dá pelo menos uma viagem. Isto facilita a vida de muita gente. Mas, voltando à história, quando Cundino, o pai do Amave disse no cartório o nome da criança, o homem de lá disse que esse não era nome de gente, que precisava pensar em outro para ter a certidão de nascimento. Então ele botou João. Chegando em casa, Cundino explicou para a mulher o ocorrido. Ela não se conformou, disse que antes tivesse ela ido lá resolver isso. “Lógico que Amave é nome de gente! O padre disse na pregação que Deus, além de tudo, é também Amave. Se Deus todo poderoso é Amave, o nosso filho  pode ter essa obrigação ao carregar esse nome”. Por isso que, mesmo sendo João, entre nós o menino cresceu e sempre foi chamado só de Amave. Ele era craque em fazer esteiras e cestas. Infelizmente teve vida curta o coitado. Um sarampo recolhido lhe tirou a vida quando nem tinha idade de vinte anos.

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