sábado, 16 de maio de 2020

PEDRA DO ALÇAPÃO

Alguns lugares são inesquecíveis!  (Arquivo JRS)



                Todas as vezes que eu passo na estrada que liga Caraguatatuba e Ubatuba, me emociono quanto estou por perto da praia Brava do Hermínio, próximo do Lamberto (onde localiza-se o Instituto Oceanográfico da USP). É que naquela região, pelas costeiras, eu desconfio que conhecia, quando menino, todos os pesqueiros.

                Pesqueiro é o lugar, nas costeiras, onde os antigos caiçaras sabiam que tinha peixe sempre. Ou seja, não tinha como “perder a viagem”. Geralmente é porque nesses determinados pontos têm tocas preferidas dos peixes devido a lugares profundos, de correntes onde passam cardumes etc. Falo agora de alguns exemplos: logo depois da barra do Perequê-mirim tinha a Pedra do João Brás. Do outro lado, a meio caminho da Santa Rita, ficava o Saquinho Manso. Na ponta direita era o Ponto do Guilherme, onde até lagosta vinha no anzol. Ali, por um longo tempo, o Pio escultor teve uma barraca, onde trabalhava, quase sempre acompanhado de suas crianças loiríssimas, produzindo suas belas obras em madeira. (Possivelmente ele não exista mais, mas continua vivo em nossas memórias e em suas obras pelo mundo). Depois vem a Lage do Jango, mas eu nunca me aventurei por ali porque tinha muitas cracas e eu sempre andava descalço. Próximo do morro onde por um tempo morou o Gentil e a dona Tereza, ficava a Pedra do Alçapão. Ali sim eu pesquei demais com o papai! Era garoupa, era bagre, era gudião, era salema, era moreia... Ai, ai, ai...

                Geralmente era no final da tarde que o meu pai gostava de ir até a Pedra do Alçapão. Quando a gente saía de lá já estava quase escuro de vez. “Nesse horário os peixes estão querendo alguma coisa para comer e depois irem descansar”. Eu achava que era mesmo. Assim, num entardecer, um peixe se agarrou na isca ali, mas logo entocou. Era garoupa. Meu pai esperou um tempo, andou variando as posições de puxadas, mas de nada adiantou. “É bitela, Zezinho! Se eu  forçar muito vai estourar a linha na pedra”. Vendo que a danada não iria desentocar mesmo, o que fez ele? Puxou um galho da árvore mais próxima que resistisse, amarrou a linha sob pressão, bem esticada e... “Pronto! Vamos embora! Amanhã cedo venho aqui ver o que resultou. Ela vai se cansar e vai boiar”. Dito e feito. No outro dia, na hora do café, chegou ele com a garoupa enorme. Depois, várias vezes vi isso se repetir. 

             “Escuta, Gal: a Pedra do Alçapão, logo ali, nunca deixou a gente de mãos vazias!”.  Foi o que comentei com a minha esposa ao passar pelo lugar dias atrás.

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