Caçuroba na barra (Arquivo JRS) |
Eu costumo dizer sempre que os
mais novos têm o dever de serem melhores do que eu. Faz parte da evolução a
geração seguinte avançar mais do que a geração anterior. Nesta lógica surgiram
técnicas, remédios, posturas etc. “Não
tem sentido eu pegar a bola e chutar para trás, querendo fazer gol no goleiro
do meu time”, escutei numa tarde do Seo Carlos, ao substituir o Nelson Graça numa
partida contra os adversários do Saco da Ribeira, o time do Recurso Futebol
Clube que estava na disputa com o Esporte Clube Anchieta, do Perequê-mirim. Há
muito tempo estes dois times desapareceram. Poderiam ter evoluído? Poderiam! O
que aconteceu? Caíram num buraco evolutivo!
Cair num buraco evolutivo é
regredir, deixar de chutar a bola para frente. No caso do Brasil, nos últimos
anos, desde 2013 aproximadamente, a pauta evolutiva está travada por uma elite
que, ameaçada em seus privilégios (pela implantação de modestas medidas na
busca de melhor distribuição de renda e de avanços sociais aos trabalhadores),
se abraçou aos aliados externos (que sempre sugaram as riquezas do país) e deu
um golpe político. Agora, os absurdos passam por normalidades, a Constituição é
desrespeitada e as injustiças se tornam legais. Quem mais sofre? O povo pobre é
a principal vítima porque está perdendo direitos que mal tinham sido implantados.
Perde a agricultura familiar, os pequenos produtores, porque os latifundiários e grileiros se acomodam
em suas posições expropriatórias. Perde grupos indígenas para que grandes
empresas, muitas delas estrangeiras, explorem seus territórios e destruam a
natureza preservada pelos milênios por esses grupos. Perde outras tantas
minorias porque a legislação sofre retrocesso e as forças policiais são
defensoras do poder econômico, reforçando ideais fascistas. Perde a juventude
porque seus sonhos não vislumbram caminhos iluminados. Isto é o pior!
Certa vez me explicou um professor de Antropologia: “Várias etnias indígenas
deixaram de procriar porque só enxergam coisas ruins para o futuro e não desejam
sofrimento aos possíveis descendentes. Se negam a deixarem um mundo assim, de
perspectivas tão sombrias, aos filhos. E assim vão desaparecendo, tal como uma
vela que se apaga”. Grande Porphírio Figueira!
Eu cresci num buraco evolutivo,
quando militares, a pedido dos Estados Unidos, aplicaram o famoso Golpe
Militar. Na época, uma importante aliada da classe golpista foi uma parte da
religião católica. Muitos, por não terem autonomia de pensamento, caíram feitos
patinhos. Eu vivi o retrocesso na educação pública, entre outros. Hoje,
novamente, aí estão os milicos associados a um ser no (des) governo que foi banido de suas alas por
desvio moral, por desequilíbrio psicológico. Agora em pijamas, protagonistas da segunda divisão anterior, novamente assumindo o chute para trás. Mas devem estar cientes que continuam na segunda
divisão! Na primeira mesmo, somente os grandes capitalistas! E agora, além das
linhas conservadoras do catolicismo, ainda tem os neo pentecostais, do grupo dos chamados de evangélicos, fazendo a cabeça do rebanho. “É Deus quem ilumina nosso presidente. Por isso damos todo o nosso
apoio a ele!”, se justificou o Pastor João, tal como Totonho do Rio Abaixo
e tantos outros que vivem da boa fé do povão.
Ainda não vemos o fundo deste buraco evolutivo.
Mas... dá um tempo aí! Algumas resistências aparecem como vaga-lumes! Dias desses escutei o economista Eduardo Moreira
falando de uma iniciativa para apoiar financeiramente as instituições populares
em seus empreendimentos sem passar pelos bancos exploradores que aí estão. “Você sabe o que os bancos fazem com o seu
dinheiro depositado? Podem estar até
mesmo financiando fake news contra a sua classe, desmatamentos etc. Podem estar
ajudando na compra de armas para dizimar minorias, reforçando as milícias etc”.
Vale a pena escutar esse homem valoroso! Me aparece como um degrau para superar
o buraco evolutivo que nos engole. Outros estão por aí. A nossa cultura caiçara também tem focos de
luz para contribuir para importantes
passos evolutivos! Faz lembrar uma travessia da Caçandoca para o Saco das
Bananas, numa noite inesquecível: “Só
atravessei a mata virgem, depois do Caetano, na Ponta Lisa, porque se enxergava
o caminho de tanto vaga-lume que havia!”. A nossa cultura é um desses pontos
de luz.
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