Aqui, meu filho. Olha quem faz cantoria na grota! (Arquivo JRS) |
Tio João, ao me escutar de vez
em quando cantalorando em algum lugar (pelos aceiros, sobre pedras, trepado em
árvores etc. ), dizia rindo: “Que
cantoria de grota é esta?”. Eu nem ligava, continuava por ali tranquilo.
Quase sempre ele estava me procurando para ter ajuda em algum serviço.
Vou
explicar o que é cantoria de grota. Creio que poucas pessoas tenham tido a
oportunidade de escutá-la. Trata-se um encantamento! Falo assim porque, desde
muito pequeno, por morar perto de alguma grota sempre, eu me esquecia de tudo
assim que ouvia um canto rápido, ritmado, agradável. Acreditava que era canto
de passarinho. Até pensava, naquele tempo, por se esconder bem rasteiro, se
tratar de um fura mato ou até parente
da corruíra. Eu me empenhava em
tentar ver quem era o responsável pela cantoria, feita de pedaços curtos.
Numa certa ocasião, indo até a Pedra da Igreja, assim que eu
escutei o tal canto parei. O meu pai, vendo que eu ficara para trás, retornou
para ver o que estava acontecendo. “Não é
nada não, pai. Só estou querendo ver esse passarinho que está falando logo ali.
Escuta só”. Ele deu uma gostosa risada.
“Não é passarinho, Zezinho. É sapo! É sapo da grota! Vamos procurar, você vai
ver só!”. E ele, tomando a dianteira, se agachou para ver as pedras mais de
perto, tentando enxergar a parte escondida delas. De repente, ele foi com a mão
bem devagarinho e pegou alguma coisa. Assim que abriu, eu vi aquele minúsculo
sapinho. “Aqui, meu filho. É ele que canta nas grotas.
Deste tamanho, mas de longe a gente não deixa de escutar a sua fala. Os mais
velhos diziam que, quando é assim, ele está chamando namorada. Então é muito
namorador, né?, porque está sempre em
cantoria! Imagina só se ele fosse sapo grande, do tamanha da entanha!?!”.
Coisa nossa! Coisas de caiçara!
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