Porto do Paru (Arquivo JRS) |
O sol já tinha iluminado tudo, menos
o lado do morro onde fica o território do “pessoal do Paru”. Eu, indo para a
prainha da Xandra mariscar (porque era maré de Lua era cheia ) , encontrei o
Argemiro com uma fieira de peixe. “Madrugou,
homem?!?”. Essas pessoas mais antigas acordam antes do galo cantar e dão
uma andada para olhar o mar. “Fui na
costeira ver como as coisas andam. Aproveitei para ajudar o menino do Paru a
puxar a canoa. Bateu um cardume de embetara no tresmalho, todas deste tamanho!”.
E eram bonitas mesmo! Eu, que conhecia bem o Argemiro, sabia que ainda vinha
história. Ele, tal como o Zezinho Rosendo, mesmo com pressa ainda ficava ao
menos uma hora a mais. E ele veio com tudo! “Já
que temos pressa, vamos sentar ali, naquela pedra lisa”.
“No meu tempo de gente nova, como o essa criançada que anda por aí, a nossa casa era na ponta do Tapiá, onde tinha
uma água pequena, mas dava conta da nossa precisão. Era papai, mamãe, minha
irmã, meu irmão e eu. Na Pixirica também tinha a família do Velho Bito João. Depois
nós saímos dali, fomos de mudança para a Santa Rita porque a nossa roça maior
era lá. E tinha a capela frequentada por tanta gente! A mamãe era muito devota
da santa! Não demorou muito tempo, o padre resolveu trazer para a Enseada a capela
e a santa. Dizem ainda hoje que teve um dedo do Macié e do Bráulio Santos nessa
decisão porque eles queriam vender as posses daquela praia. Acredito que era
verdade tudo aquilo que se escutava dessa história. Assim que nós saímos,
também se mudou a família do Gusto, a família do Bastião Coimbra e a do Targino.
Aquela terra toda foi comprada por um tal de Pirani, de São Paulo. O Nirso do
Valentim, gente que morava no canto de lá [direito, da Enseada], foi contratado como empregado do ricaço.
Agora já faz tempo que eu não ando por lá, mas dizem que tudo aquilo se encheu
de casa, uma mais bonita que a outra. E nem quero ver mesmo! Acho que deve ter
mudado tanto que eu posso até morrer se ver o lugar!”
Me
despedi confirmando um café para mais tarde, quando estivesse de volta da
costeira. Agora o Argemiro já é falecido. Certamente que ele ficaria assustado
se visse as transformações na sua Santa Rita, sobretudo em saber que todo
aquele mar está poluído por esgoto e óleo dos barcos. Era bem capaz de morrer
mesmo!
Que iniciativa maravilhosa! Continue nos brindando com narrativas tão preciosas. Abraço.
ResponderExcluirGrato pela apreciação das coisas de caiçara! Abração.
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