Artesanato na Caçandoca (Arquivo JRS) |
Continuo recordando das minhas
raízes, de falas e de contatos que me vêm à memória. Com certeza elas estão em
mim e passando nos meus! Os nomes Mesquita e Amorim têm origem no mouro, na
cultura árabe. A história da caapora ter se juntada ao parente português é a
minha linhagem indígena. Na sala da vovó Eugênia tinha a fotografia do pai, um
negro cuja mãe, trisavó da gente, foi escrava na praia do Lázaro. A mãe,
Laurentina, herdou seu nome de uma branquíssima italiana, por parte da mãe dela.
Papai, natural da Caçandoca, dizia que na sua infância “tinha conhecida uma tia que era ruiva e que escutou muitas vezes
dizerem que ela era filha do estrangeiro, da Holanda”. (Observação: naquele
tempo, depois dos pais, na comunidade todos eram primos, primas, tios e tias).
Eu tenho irmãos loiros, de olhos
azuis, de olhos verdes... Meus primos também variam entre as características
das nossas raízes fundadoras. Vicente, um negro impressionante, Toninho, irmão
dele, um loiro de olhos azuis; tio Chico e tio Lúcio que se passavam por índios
até mesmo entre os índios; a prima Catarina (filha do tio Chico e da tia Maria)
morena, de cabelos loiros, de olhos verdes; Jorge, um cafuzo sempre de bem com
todo mundo, do time dos fartos beiços. E um monte de gente com cabelos duros,
espetados, narigudos...E com olhos puxados: marca número um!
Quando criança, eu me
impressionava com os olhos da tia Izolina: eram azuis demais, pareciam enxergar
dentro da gente. Ela morava na cidade de Cunha, distante daqui, mas
regularmente nos visitava. (Mais tarde eu notei que a vovó Martinha tinha os
olhos do mesmo tom, mas passavam como normais porque ela estava no nosso
cotidiano). Nessas ocasiões, mamãe me escalava para acompanhá-la nas andanças
pelas casas de outros parentes. Eu gostava porque escutava muitas histórias.
Essa tia – Izolina Amorim - é a dona de frases marcantes: “Praga eu não rogo, mas bom fim não há de ter”, “Defunto que não
conheço não rezo, nem ofereço”...
Neste
planeta, desconfio que é assim com a maioria dos povos. Neste país,
essa colcha de retalhos é que nos faz brasileiros! Tem sentido alguém rumar na
direção do preconceito étnico, de aceitar a cor da pele como marca de
superioridade ou inferioridade? Tem sentido tantas injustiças decorrentes
disso? É preciso reflexão sempre! Meu tio-avô Clemente, filho de negra e de mouro, da ilha
do Mar Virado, repetia sempre: “Para ser
imbecil e atirar no próprio pé não é preciso muita coisa”.
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