Seria interessante ir novamente
nesse lugar (Saco das Bananas, em Ubatuba) e fazer novo registro fotográfico.
Vinte e cinco anos se passaram. O mais novo desses personagens da fotografia já é falecido.
Ao fundo está a praia. Aquela casa, cujo proprietário era chamado de “Seo
Bassin”, era a única. Na verdade, em meados da década de 1980, quando o
professor Pedro Paulo estava como
prefeito, aconteceu uma negociação: o Gregório Crispim vendeu a sua posse para
esse “Seo Bassin” e foi morar em Caraguatatuba, junto ao rio Juqueriquerê. Logo em seguida ele, o ricaço, procurou a prefeitura para construir uma
escola mais acima, perto do caminho, e, no lugar da antiga escola, ele fez nova
casa, a sua, de veraneio. Linda mesmo! Não me pergunte se alguém levou uma recompensa por
fora nessa facilitação. Só sei que, uma vez ali, a impressão que se tem é que a
linda prainha é particular. Eu, por ter a parentalha por ali, circulava subindo
e descendo o morro, mas nem ousava olhar para o lado da casa quando tinha gente
lá. Alguns conflitos aconteceram ao longo dos anos. Eu estava lá quando a
embarcação dos filhos do Dito Madalena, que chegava da pesca, se chocou contra
a enorme lancha do ricaço que estava fundeada no ponto deles. Coisa pouca,
quase nenhuma marca, mas aconteceu. Os rapazes juntaram suas coisas e foram
morro acima, para casa. Chegaram já contando para os pais (Dito e Constantina).
Não demorou muito veio o dono da lancha reclamar do ocorrido. E então aconteceu
o seguinte: “Sim, pois não doutor”. E
ele começou a explicar o ocorrido. Mas mal começou, o Dito diz: “Vamos entrar, doutor. A casa é pobre, mas
recebe o nobre. A gente se entende melhor sentados”. E ele, meio
ressabiado, entrou e se acomodou na pobre cozinha, de onde se avistava o grande
mar. “Mulher, faça um café para nós. Asse
umas bananas para a gente comer com essa farinha que fizemos hoje”. Os
rapazes, assim como eu, permaneciam em silêncio na sala, apreensivos pelo
desfecho do assunto. E Dona Constantina, além de tudo, ainda fritou umas postas
de peixe. E o homem não teve como não aceitar tudo aquilo que fazia parte da
acolhida dos caiçaras. Então ele contou, comeu... contou... comeu mais ainda.
Queria receber pelos danos causados na sua lancha pela embarcação da família. O
Dito, depois de escutar o homem, respirou fundo, deu uma olhada por cima da
janela como se a Ilha da Vitória estivesse logo ali: “Escuta aqui, doutor, eu não vou pagar nada. Naquele lugar, onde eu
tenho visto a lancha do senhor, é onde fica a nossa poita. Tem até uma boia
permanente lá, ela não sai dali porque é a nossa guia, onde a nossa baleeira
fica fundeada. A praia é pequena, nós precisamos chegar e sair todo dia para a
pesca. O seu barco poderia ficar mais para fora, sem atrapalhar nada. Por que o
senhor põem ali, no nosso lugar? Então... eu não vou pagar nada! .Não quero
brigar com o senhor e os meninos vão continuar fazendo a mesma coisa que fazem
todo dia. Nós precisamos pescar, é disso que a gente vive. Assim tá bom? E, além do mais, nós somos vizinhos”. Assim foi resolvida a questão.
O “Seo Bassin” saiu de barriga cheia, doido para chegar em sua casa e escovar
os dentes para tirar o gosto da piragica frita. Depois eu ri muito. Ainda hoje,
ao lembrar do fato, me alegro pelo desfecho. Certamente que o tal ricaço
nunca esperava um tratamento desse.
Em tempo:o amigo João Batista (Jobàn) deu a informação de que, nesse tempo, a prefeitura foi acionada pelo Dito Madalena porque o ricaço cercou o acesso à praia. Ele e a equipe foram até lá retirar a cerca.
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