Ponte no Massaguaçu (Arquivo JRS) |
O Brazil não conhece o Brasil/ O Brasil nunca
foi ao Brazil...
Entre
uô, uô, uô.... Jobim açu, alaúde... ataúde....
O
Brazil não merece o Brasil/ O Brazil tá matando o Brasil...
Entre saci, Guimarães, sarará...
Do
Brasil, SOS ao Brasil/ Do Brasil, SOS ao Brasil/ Do Brasil, SOS ao Brasil/.
Entre tinhorão, Ipanema,
olará....
Do
Brasil, SOS ao Brasil/ Do Brasil, SOS ao Brasil
Uô, uô,
uô
Dias atrás morreu mais um fabuloso
compositor brasileiro: Aldir Blanc. Dias atrás também foi morto pela polícia,
sob estranhas condições, um menino no Rio de Janeiro. Mais um!!! Pensa que vai
parar logo isso?!? Quem dera!!! E o que tem isso comigo, com a nossa cultura? Tudo! Talento brasileiro,
instituição brasileira, gente brasileira! Sim, um menino negro! Herdeiro de um passado
a chicotadas, filho de um presente que persegue os mais pobres, as minorias...
Qual futuro queremos?
Na última eleição geral, o resultado
final mostrou a cara do grande contingente de brasileiros que idolatram o
fascismo, o ódio. Pior: quase todos pobres, contra eles mesmos! Quantos fatores
estão envolvidos nos resultados do ódio que venceu o amor? Muitos! Religião
elitista, alienada, educação precária, crença em falsos líderes, propaganda massiva contra os
valores comunitários, incentivo ao consumismo, o lucro acima de tudo etc. Na
praia do Perequê-mirim, numa distância pequena de nós, ficava a casa do “Doutor
John e da Dona Tatinha”. Mais tarde soube que eram professores da USP. O
carioca Celino era o caseiro deles.
Celino, como já falei em outras
ocasiões, era subversivo. “Qualquer dia
ele vai se dar mal”, dizia o meu pai. Eu, sempre tentado a escutar os assuntos dos mais velhos, numa oportunidade parei perto dos dois (Celino e Dr.
John) que conversavam. Fingindo estar pegando flores vermelhas da cerca para
chupar o docinho delas (aprendi com os beija-flores, ué!), fui prestando
atenção. A prosa, notei facilmente, era sobre a política. O doutor
podia saber muito, mas o Celino era mais vivido: “Doutor, é lobo comendo a vovó! Depois, logo em seguida, ele engole também a
menina! Os interesses dos militares que agora mandam é entregar nossas riquezas
para os Estados Unidos. O senhor escutou a música, agora, do Aldir e Tapajós? Ele diz que o Brazil (com Z)
não conhece o Brasil, que não merece o Brasil, que tá matando o Brasil. E
denuncia, com o seu uô, uô, uô, a ação das Forças Armadas e da polícia que se
presta a esse papel de perseguir todos aqueles que não concordam em entregar o
nosso país para os Estados Unidos”. E por aí foi a prosa. Com o balançar de cabeça de
quem o escutava com cuidado, o doutor acrescentava mais coisas que eu não
escutava direito, nem entendia ainda. De
repente, aquele estalo, coisa de gente nova: “Ah! Tá
bom! Agora vou mergulhar!”.
Hoje,
ao iniciar com uns recortes da música Querelas do Brasil, dou os fundamentos de
alguém que se foi faz tempo (Celino) admirando quem acabou de ir (Aldir Blanc).
Tal como o menino assassinado dias atrás, Celino era carioca e negro, que
sempre dizia: “Eu cresci com caixa de
engraxate na esquina das ruas Abolição e Princesa Isabel, na placa que indicava
a Praça da Liberdade, mas meus avós vieram escravizados da África! E eu?”. E hoje...
E
hoje?!? O jumento envelheceu, mas as rodas remendadas da carroça ainda conseguem
ir do Brasil ao Brazil, entregar outras porções de riquezas em detrimento da maioria pobre da população brasileira. Será que chegará? Pode ser. Afinal, tem os burros! Tem gado para juntar em parelhas! Tem cloroquina e fartura de capim! “Deus acima de todos!”. Ai, ai, ai...
Vamos estudar, minha gente! Vamos refletir! E pode tomar tubaína!
Vamos estudar, minha gente! Vamos refletir! E pode tomar tubaína!
Parabéns, Zé. Seus textos estão cada vez mais precisos. Declaro isso considerando a polissemia desta palavra: exatos e necessários. Um forte abraço.
ResponderExcluirVindo de você, eu acredito! Obrigado, Jorge.
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