terça-feira, 2 de novembro de 2021

QUEM NÃO TEM SEDE?

Se divertindo na praça (Arquivo JRS)

 

    Tem coisa que parece fácil de ser resolvido.Por exemplo: dar um copo de água para quem está com sede. Funcionários públicos, que esporadicamente estão em serviço por nossas ruas, costumam chamar ao portão e perguntar se não tem uma água geladinha para lhes servir. É um prazer realizar esse mínimo ato. Mas agora eu estou me referindo a quem anda pelas ruas de nossa cidade, se abriga pelos beirais de casa, em varandas de pontos comerciais, pelas praias, debaixo de árvores ou debaixo de pontes. A esses, as pessoas não desejam nem enxergar nos portões, têm medo, não suportam o fedor etc. 
    
    Antigamente, as cidades tinham seus chafarizes justamente para oferecerem água fresca e boa para matar a sede. Algumas localidades pelo Brasil afora ainda as preservam como monumentos. Porém, estive em uma cidade em que, administradores mais populares, atentos às necessidades de esportistas, de transeuntes ou de moradores de ruas, instalaram bebedouros pelas praças. Trata-se de São José dos Campos, no Vale do Paraíba. Foi assim que descobri: depois de almoçarmos, bem no centro da cidade, eu e a esposa fomos nos sentar num banco da pequena praça próxima, bem arborizada e pavimentada, com banca de jornais e revistas e mais gente tendo a mesma necessidade que nós, desejando descansar. Nisso chega uma jovem pedindo algo para comer. Lhe entrego duas maças. Ela agradece e se dirige à esquina, onde havia uma coluna fincada. É quando eu noto ser um bebedouro. Ali ela lava as frutas, refresca o rosto, bebe  água e segue seu caminho mastigando satisfeita aquilo que lhe demos. Reparei em seguida que mais gente, inclusive uns jovens que conversavam alegremente no assento vizinho, procuraram a fonte para beber e abastecer suas garrafinhas com o precioso líquido. Não nos demoramos por ali; fomos dar outra volta, conhecer outros pontos da cidade. Tínhamos tempo, pois nossa filha estaria na faculdade, fazendo provas até quase o anoitecer. Rodamos alguns minutos e chegamos em outra praça, num bairro aparentemente de gente mais rica. Escolhemos uma sombra e tentamos cochilar um pouco. Eu não consegui porque me interessei pela movimentação no lugar: crianças pedalavam, famílias traziam seus cães, idosos conversavam pelos bancos, pais jogavam bolas com seus filhos... Enfim, deduzi que todos estavam ali para poder aproveitar o restante da tarde em convivência com familiares, parentes e amigos. Agora vem o que interessa neste texto: a poucos metros de onde estávamos, um bebedouro bem mais frequentado do que o avistado no logradouro anterior (porque as atividades físicas dão mais sede). Para ali acorriam crianças e adultos. Ah! A fonte também foi pensada em servir aos animais! Na base dela havia uma espécie de bacia e uma torneira que a abastecia. Regularmente alguém chegava trazendo seu animal de estimação para matar a sede e se molhar um pouco. Então pergunto: o que falta a um prefeito, a uma gestão municipal, oferecer serviço tão essencial? Não seria mais humano colocar mais bancos por nossas praças e instalar bebedouros, dar água a quem tem sede? Novamente volta à nossa decisão: abraçar o discurso de ódio ou cultivar o amor? Fazer algo pelos vivos ou ser hipócrita e apenas cultuar os mortos?

3 comentários:

  1. O que falta é preocupação com bem-estar de todos, não apenas de alguns.

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    1. Isso mesmo! As riquezas da Terra deveriam ser para todos igualmente!

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