Arte em Inhotim - Arquivo JRS |
Houve um tempo para as apresentações. Tobias de Jesus, pai do Ostinho, um dos presentes, era liderança do bairro e compunha o grupo original dos dançadores. Zé Maurício explicou rapidamente seu partido e seus projetos que tinha em mente. Em seguida, quando a viola e o pandeiro se fizeram ouvir, o ensaio começou. Até Totonho estava empolgado para aprender os manejos da dança da congada. O candidato apresentado por mim também entrou e fez bonito, direitinho em todas s evoluções. Já o Totonho, cansei de ver as bordoadas que recebera nos dedos. No fim de tudo, o anfitrião Fortunato, "dono do apito", tomou a palavra: "Estou satisfeito pelo ensaio, por terem se esforçado no manejo. Notei que apenas um de nós não se concentrou. Quando isso acontece, posso afirmar que é porque o pensamento está em outra coisa. Será em torno daquilo que o seo Zé Maurício nos falou? Será porque estava pensando nas verdades que podem derrubar mentiras?". Dei um sorriso, pois eu sabia que o mestre da dança repudiava o ser mentiroso do Totonho. (Certamente que ele sabia que a verdade compromete o nosso ser mais do que a mentira, e, que muitos dali tinham consciência do quanto ele era mentiroso). Naquela eleição, diante dos exíguos votos dados à dona Ester, Zé Maurício, Plínio e outros, percebi o quanto temos de caiçaras conservadores, que preferem apoiar os que enganam em vez de se comprometerem com a verdade que nos conduz às lutas pela nossa cultura e pelo nosso território. Quem se regozija com isso são os que querem continuar explorando impunemente. Resumindo: entender política é enxergar muito além de um palmo do próprio nariz; é se comprometer com a verdade e tê-la como um farol na navegação segura.
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