segunda-feira, 1 de novembro de 2021

MEIO AMBIENTE

 

Arte no muro - Arquivo JRS

   Novamente começa,  na Escócia,  outro encontro mundial sobre o meio ambiente. Pessoas interessadas e/ou preocupadas se farão presentes, estudarão, darão contribuições neste assunto. Com certeza, haverá uma linha científica atenta aos saberes tradicionais, querendo uma gestão participativa entre as comunidades tradicionais e os governos, onde seja investido mais na valorização de tais saberes e não na sua perseguição, na extinção de povos inteiros e de saberes milenares. Creio ser muito importante a comunidade internacional se voltar aos detalhes regionais, às diversidades. Outros saberes precisam ganhar status fora do academicismo, do eurocentrismo etc. Assim, se dá de fato, o reconhecimento político de povos que sequer sabíamos de suas existências. Surge o desafio de olhar outros territórios com respeito, de garantir suas posses a quem de fato pertence, pois neles se desenvolveram culturas únicas, conforme o meio ambiente, a ocupação histórica primordial e as contribuições vindouras. De repente, "modernizar", "desenvolver", "integrar" e outros termos recorrentes na justificativas de intervenções merecem ser questionados, revistos até. Mediante as ondas desenvolvimentistas no território caiçara, sobretudo dos séculos XX e XXI, cabe ao menos uma reflexão: houve, nessas ondas, preocupação com a realidades local, humana ou ambiental?

    Quando ouço estudos se referindo aos saberes caiçaras, penso nos direitos de propriedade intelectual. Me pergunto se tais pesquisadores estão dispostos a lutarem do lado das comunidades que lhes forneceram tais conhecimentos, tais fundamentos de suas arguições científicas. Será que o meu povo caiçara está recebendo dividendos por compartilhar suas riquezas, inclusive ao turismo que se edifica pelas belezas e purezas das paisagens preservadas, das nossas manifestações culturais? E o que dizer daquelas práticas que, mediante o uso da razão e do pragmatismo, agora são julgadas como danosas: elas receberão compensação e apoio técnico para poderem ser redirecionadas?
    
   Certamente a cultura caiçara não estará representada na Escócia. E, se dependesse do governo atual do Brasil, nem estaria na Escócia os representantes brasileiros realmente preocupados com o meio ambiente e com a vida às futuras gerações do planeta Terra. (A  máxima dele é escancarar as porteiras e garantir capim ao gado). Porém, acredito que haverá muita gente defendendo os valores essenciais tão caros às comunidades que não puderam comparecer ao fórum. Aguardo sempre desdobramentos favoráveis a nós e a todos herdeiros de saberes ecológicos, de visões de mundo que podem permitir encontrar modelos ecologicamente benéficos à humanidade. É o que necessitamos urgentemente!

   Tenha certeza, meu povo, de que essas articulações e esses eventos (museu caiçara, fandango, mostra e fórum de saberes tradicionais etc.) são práticas de cidadania muito maior do que imaginamos. Delas nos valemos para não esmorecer frente aos desafios ao nosso território. A elas recorremos para oferecer ao mundo algumas pistas para que todos tenham vida.

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