domingo, 14 de novembro de 2021

IMAGENS E FATOS QUE APELAM

Imagens falam conosco - Arquivo Ubatuba

    Eu sempre soube da existência de um grande morro ali, no bairro Acaraú. Até recentemente era visível a base dele até do outro lado da pista. O casal Neli/Garoçá, cuja moradia se localizava em outro extremo do mesmo morro, eu conheci muito bem. Por ali também moravam Janguinho/Santana, Élvio e seus pais etc.  Mas ideia da altura do Morro do Acaraú eu tive mesmo diante de uma fotografia antiga da capela do Itaguá, tendo-o ao fundo. Não imaginava ser tão alto. Busquei saber mais, tentei explicar acerca do possível tanto de terra que saiu daquele lugar para aterrar áreas de mangue e de grandes brejos que se estendiam desde o Itaguá até a Barra da Lagoa. Quem não consegue ter noção do mundo de aterro que soterrou espécies únicas de peixes e outros animais? Quantas toneladas de barro e pedras deixaram caxetais (ou simarubais) inteiros soterrados, se decompondo sem servir às práticas artesanais e à subsistência das famílias caiçaras?

   Um dia, a imagem acima chegou até mim. Ali estava o Morro do Acaraú bem evidente, entre as praias Grande e Itaguá: "É o que está um dedinho abaixo das letras Uba, de Ubatuba. Preste atenção, veja que tudo está plano ao redor dele". Nesta semana, passando de ônibus rapidamente, fiz um esforço para registrar os estertores do Morro do Acaraú. Depois de muitos anos resistindo ao lado de edifícios já construídos sobre as pedras-bases do morro, o último pedaço dele vai sumindo. Certamente outra edificação enorme surgirá ali, bem na rotatória Acaraú-Praia Grande, às margens da BR-101. Quem vai imaginar, depois da urbanização total, que ali existiu um lindo morro? Foi-se, assim como desapareceu a maior beleza do Morro da Mina (no bairro da Estufa), do Morro dos Índios (no Parque Vivamar), da lagoa no Morro da Ocaraçu (na Prainha do Padre), do Morro do Cemitério dos Escravos (no Caminho das Ruínas da Lagoinha), do Morro da Timbuíba (no canto da Lagoinha) etc.
Na rotatória Acaraú-Praia Grande - Arquivo JRS


   Desconfio que muitas áreas maravilhosas do nosso ambiente ubatubense ainda serão sacrificadas, mesmo tendo tanta gente se compondo na resistência. Quantos anos ainda restarão aos brejos, às ínfimas ilhas de fauna e flora remanescentes por toda a extensão do município? Será que custa entender que são pérolas ambientais tudo isso, que merecem ser tombadas?  Quanto de turismo e de educação ambiental pode atrair uma várzea preservada? Querer conhecer e mostrar às gerações vindouras as características que originaram a cultura caiçara em Ubatuba é um desafio nosso. Se importar com tantos outros seres dessas áreas únicas é saber que somos interdependentes nessa caiçara natural composta pela serra e o mar. Enfim, os espaços de vidas não deveriam virar espaços de mortes. O que você acha disto tudo? 
 

6 comentários:

  1. E Primo José Ronaldo e assim se vai nosso território caiçara, sendo tolhido por invasores que fazem o que querem seja com nossas praias, jundus,mangues ,morros ,gambas.
    E nós não podemos colher taboa,caxeta,não podemos tirar uma árvore pra fazer uma canoa Caiçara, um Remo.
    Fico muito triste co. Tudo isso.
    Arrela e uma judieira!

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  2. Os territórios compreendem a memória de povo.... Até quando a administração de nosso município ficará indiferente a estas atrocidades? Sugiro organizarmos uma nova "confederação dos Tamoios"😃

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  3. Todo essa destruição não é suficiente para sensibilizar nossos governantes (municipais, estaduais e federais) porque representam aqueles que lucram com ela.

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