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Parei na imagem da tarde calorenta: debaixo da árvore dois amigos descansavam. Rente a um deles, um cachorrinho também dormia. Que cena! Penso na acolhida, na amizade, na fidelidade e em mais coisas que o quadro pode muito bem ilustrar. Quem não tem um bicho de estimação que apresenta esses aspectos que emocionam? Afianço que perdi a conta de quantas vezes presenciei os sinais de amizade entre andarilhos e cachorros, chegando ao ponto de partilhar igualmente um pão ou um salgado. E dormindo junto então?!?
De repente, num retão da rodovia, homens e animais seguem se deslocando como parceiros inseparáveis, se entendendo e se completando na solidariedade. Faz-me pensar em homem-bicho e bicho-homem. Agora, recordei de um cortador de pedra que há tempo nos deixou. Todos o chamavam de Bichinho. Eu, criança andeja, me detinha junto ao barraco dele para apreciar o preparo das ferramentas que perfurariam pedras, granitos verdes que até começo da década de 1980, eram cortados em blocos e enviados, sobretudo ao exterior.
Conheci muitos caminhoneiros (Roldão, Almir, Rodrigo, Ismael, Isidoro...) que viviam nessa lida, correndo estradas com cargas de até dois blocos em suas carrocerias. O Porto de São Sebastião recebeu muitos navios que vinham atrás dessas cargas. Por pelo menos duas décadas, o granito verde de Ubatuba foi um competidor da produção pesqueira. Hoje, nem e nem outro se destacam; a extração de granito verde logo completa quarenta anos de proibição. Mestre Bichinho e tantos outros dessa arte nos deixaram faz tempo. Mas aonde quero chegar? Explico agora: Rex era o cachorro do Bichinho. Quando seu dono se encostava em algum lugar, depois de ter ultrapassado nas doses, a gente não podia nem passar por perto. Acho que era proteção e ciúmes os sentimentos do fiel Rex. Aquele homem... aquele cachorrinho... os dois dorminhocos puxaram à lembrança esse carioca que veio viver entre nós caiçaras e ensinou a tanta gente o ofício de talhar pedras.
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