Caiçara - Arte da Maria Eugênia, minha filha |
Remexendo ali no balaio do canto, encontrei uma folha mais amarelada que
as demais. Comecei a ler. Tenho quase certeza de que o texto não é meu, mas
gostei e vou postar na melhor das boas intenções. Afinal, é coisa de caiçara!
O verdadeiro caiçara dos tempos de nossos avós
Nas primeiras horas de um novo dia, logo de madrugadinha, lá estava ele de pé. Acendia a lamparina, preparava o café que tomava acompanhado com peixe assado e farinha de mandioca. Abastecia a barriga e arrumava as coisas para pescar.
Preparava o balaio e as linhas de pesca, que naquele tempo era de cordoné. Se deslocava até o rancho na praia, lugar onde as canoas dos pescadores ficavam guardadas. Ali chegando, tirava a sua canoa do meio das outras, colocando-a sobre os rolos de madeira e empurrava-a até ao mar.
Não podia esquecer o puçá. Arrumava os apetrechos na canoa e lançava-a na água até que flutuasse, pulava dentro e ficava em pé para remar até ao camaroeiro (lugar onde os camarões se agrupam). Ali ele jogava o puçá, amarrava o cabo de sustentação no banco da canoa e arrastava por um certo tempo. Quando tinha capturado camarões em quantidade suficiente, o pescador remava mar adentro pelo tempo de umas quatro horas e ali começava a pescaria.
A pequena embarcação era suficiente para dois pescadores, que remavam de um lugar para outro até encontrar o peixe. Lá pelo meio-dia, horas dadas pela altura do sol, estavam eles retornando à praia.
Seus familiares estavam esperando e não ficavam decepcionados. O
pescador caiçara sempre voltava com a canoa cheia de peixes. Corvina, bagre,
cação, xaréu... enfim, uma infinidade de peixes. Era tempo de fartura, ninguém
passava necessidade de alimentos.
Existia o essencial para a sobrevivência, todos tinham roça de mandioca
e faziam farinha, colhiam feijão, plantavam café e tinham bananal nas encostas
dos morros. Viviam da terra e do mar que dava o que era preciso para fazer o
azul-marinho, a alimentação preferida dos caiçaras.
Após uma refeição dessas vinha uma sonolência danada. Mal dava tempo de
buscar a esteira que estava guardada em pé atrás da porta, jogar na sombra de
uma árvore do quintal e dormir a sesta.
Eita vida boa! Este era o viver do caiçara nos bons tempos.
Antes de tudo, dê meus parabéns à Maria Eugênia pelo belo desenho. Quanto à vida caiçara, é uma pena que muitos confundam saber viver com indolência.
ResponderExcluirA Maria ficou feliz com o seu elogio. Quanto à indolência, a classificação decorre do modelo de produção industrial, quando o objetivo principal era viver às custas do esforço do outro. O patrão do caiçara era o tempo e os ciclos da natureza, ou seja, chuva e sol, chegada dos grandes cardumes etc. Gratidão, Jorge.
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