Mestre Élvio (Arquivo JRS) |
Quando eu era pequeno, acatando a educação do meu finado pai, era preciso estudar e trabalhar. Num determinado dia, quando eu estava indo para estudar, ele disse:
- Se a professora não for dar aula hoje, você pega a enxada e vem ajudar a carpir esse eito de café.
Parece que meu pai estava adivinhando. Minha professora, acometida de um resfriado bravo, não daria aula naquela semana. E assim voltei para casa na intenção de dar uma força ao meu pai. Quando caminhava para a roça, deparei com uma coisa estranha que atravessava a estrada. Fiquei paralisado vendo aquilo que mexia, mexia e ia atravessando, da grossura de um garrote. Apurei a vista e vi que se tratava de uma cobra de tamanho avantajado. Eu nunca tinha visto coisa igual. Ela atravessava, atravessava e não parava de atravessar. Eu não tive coragem de atravessar pulando por cima dela. Teria de explicar para o meu pai porque estava atrasado. Para você ter uma ideia, a cobra começou a atravessar mais ou menos às 8:30 e só foi terminar por volta das 10 horas. Veja como era grande a danada! Eu estava com medo, podia apanhar do meu pai pelo atraso. Naquele momento ele veio, me encontrou ali, ainda parado. Me perguntou o que eu fazia naquele lugar, no meio do caminho. Então expliquei que a professora não foi dar aula, mas que acontecera o imprevisto da danada da cobra que atravessou naquele lugar. Ele acreditou porque já conhecia essa cobra. Era a muçurana. Ela tem cabeça grande, é forte, de cor azulada. Fazia medo mesmo. Por isso escapei de uma coça.
Cobra grande existe mesmo. Mas igual a essa muçurana do Tião só essa mesma! Medalha de ouro para o velho pescador. O saudoso Genésio, do Camburi, me contou de uma que morreu na estrada, assim que a BR-101 foi inaugurada: "Um caminhão pesado passou por cima dela, de noite. Amanheceu morta, estirada no asfalto. Ela pegava do mato até a metade da pista; os carros precisavam ir pelo outro lado. Todo mundo foi lá ver". Resolvido: a cobra do Genésio fica em segundo lugar (por enquanto!)
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