Atravessando o rio Quiririm (Arquivo JRS) |
Quase sempre Anjo corria na frente assustando guaroçás e provocando revoadas de urubus. Nem adiantava ralhar com ele. Maria pensava sorridente: "Cada qual com a sua razão". Vez ou outra ela tinha um dedo de prosa, bem rápido. Certo mesmo era se demorar com o Barroso, amigo desde sempre da família. Até parente se tornou mais tarde, pois casou-se com a prima Amelinha. Era no porto deles, perto da capela, que avistou Samuel, filho do velho Moisés, quem contou do pescador misterioso da Ponta Grossa: "É de fora, dona! Um estrangeiro". Por curiosidade, mas também sentindo compaixão, foi ver o estranho. Estava na costeira; tinha o costume de pescar desde quando chegara em noite tormentosa, como se precisasse preencher o tempo e as angústias. Anjo chegou primeiro, sendo acariciado por rudes mãos. Se tornaram amigos na hora. Era estrangeiro mesmo! Mas conhecera, rapidamente, nos poucos meses, o falar, os hábitos e os sentimentos caiçaras. Maria entendeu quase tudo. O restante se revelou na paixão. Se ajuntaram; na primeira ocasião de ter um padre por ali, ocorreu o casamento.
O tempo passou. Agora mesmo, estando por ali, debaixo da Figueira do Tião, olhei uns meninos correndo no lagamar. Loiros e morenos, saídos da rua da minha amiga Carmen. Reconheci alguns netos da Maria. Um cachorro cheirou os meus pés e fungou em minha direção. "Anjo! Vem logo!". Era um dos meninos que gritava. Deduzi imediatamente: "Trata-se de um descendente do antigo fiel companheiro, parceiro da saudosa Maria. Anjo que veio do Anjo". Que linda homenagem!
Que crônica legal, Zé!
ResponderExcluirQue bom! Gratidão, Jorge.
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