1992 - Juventude caiçara agindo na história (Arquivo JRS) |
Mamãe, bem cedo, já distribuía as nossas tarefas: um saía para comprar pão, outro lavava louça depois do café, alguém passaria pano no chão e assim por diante. Todos tinham o dever de arrumar suas camas assim que se levantassem. Aprendemos dessa maneira. Depois, obrigação sagrada era ir à escola. Brincar também era um prazer sagrado. E assim fizemos a nossa parte.
Vinha a noite, vinham as histórias. Por fim,os sonhos se fortaleciam. No dia seguinte outras ansiedades acompanhavam nosso crescimento. Com a gente também crescia o nosso lugar; mais gente ia chegando. Casas de veranistas foram surgindo e trazendo trabalhadores. Também precisamos trabalhar. Nossos costumes foram se modificando por conta da diversidade; alguns desapareceram. De repente, outras necessidades e cobiça; sonho de ficar rico. Mas o que é riqueza? Ter mais de uma casa, carro, roupas e calçados da moda... Ah! E tudo antes não era riqueza?
Por ingenuidade caímos em tentação, fomos iludidos, abrimos mão dos nossos sonhos originais, de querer viver numa grande família, sempre festejando. Nossos pais corriam para nos manter firmes; viviam ainda com um pé na roça e outro na canoa. Mais tarde precisaram ser empregados, deixar de lado o tempo da natureza. Com sol ou chuva se fizeram animais para o matadouro. Grilhões novos ao povo caiçara.
Ainda bem que estudamos! O mundo está dividido entre patrão e empregado, ricos e pobres. Todas as modificações, sobretudo as ambientais, decorrem disso. Assim o mundo vai se fazendo. É a vontade dos homens... dos ricos! Poucos homens! Sentimos necessidade de se reunir para discutir a nova cidade e os novos desafios. Das diversas comunidades a gente foi se reunindo, discutindo, crescendo e festejando: uma geração recuperando sonhos. E hoje?
Nenhum comentário:
Postar um comentário