Peixes-reis (Arquivo internet) |
Nosso pequeno grupo decidiu passar o fim de semana naquela praia isolada. Fomos hospedados na moradia de uma senhora nascida lá mesmo. Era uma casa simples, de pau a pique, no jundu. Poucas outras se localizavam pela vizinhança: uma comunidade caiçara. A tranquilidade do lugar e das pessoas levaram à prosa no serão, debaixo das amendoeiras. A lua cheia despontou assim que escureceu; o mar brilhava. Quase nem se escutava o murmuro das pequenas ondas que chegavam no lagamar. Apenas morcegos se manifestavam em guinchos enquanto derrubavam frutos roídos. Surgiram muitas histórias do lugar e de nós mesmos. Falaram de peixes grandes, de marés fortes, de mar bravo chegando nas portas das casas...
O cansaço da caminhada fez com que logo todos quisessem dormir. A noite voou nas esteiras estendidas pelo chão de terra batida. Bem cedo me levantei, antes do dia clarear. Sai de mansinho, descalço, fui logo molhar os pés nas águas do mar. Fazia tempo que estava com saudade do ritual. Pescadores do lugar já tinham saído mar afora. Vi os rolos e as marcas dos pés deixadas na vazante da maré. Logo se aproximou um cachorro na maior tranquilidade, mas não se demorou. Deitou-se perto dos rolos mais acima, na linha dos primeiros matos. Descobri naquele momento que ele guardava os rolos das canoas, sinal de fidelidade ao seu dono.
Aos poucos o dia veio. E o restante do pessoal também! Estavam bem descansados e contentes pelo lugar e pela paz. Logo tomamos café, lavamos a louça e nos preparamos para entrar no mar. Um a um os pescadores foram chegando e puxando suas canoas. Peixes frescos, ainda se debatendo nos balaios. Poucos dali tinham visto aquilo. Se admiraram. Um dos pescadores nos deu uma grande enchova: "É para o almoço de vocês". Agradecemos. Levei para dentro, deixei no tanque para preparar depois. Voltei e encontrei todos na água. Maravilha! De repente avisto uma coisa estranha: peixes-reis estão encalhando, comidos pela metade. Pego um deles e mostro ao Zequinha, um dos que chegaram da pesca. Assustado ele olha para os que estão na água, se divertindo. E grita: "Saiam correndo. Saiam, saiam, saiam logo. Tá chegando peixe bravo". Todos deixaram o mar imediatamente. Então ele explicou: "Tem bicho atacando os peixes miúdos. E está perto daqui! Peixe-rei, quando chega nessas condições na areia, é aviso para nós. Na última vez, no mês passado, era cação, tintureira. Se quiserem podem sentar e esperar para ver. Só não voltem para a água". E assim fizemos. De fato, nem meia hora depois, galhas escuras rodeavam um parcel logo ali. Não houve como se arriscar em mais banhos de mar naquele dia.
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