O futuro na nova geração (Arquivo JRS) |
Há muito tempo, quando eu era ainda adolescente, o velho Hiroíto ( Hiroíto de Moraes Joanides - 1936-1992, criminoso conhecido como "O rei da Boca do Lixo" nas décadas de 50 e 60, na capital paulista) morou um tempo na praia da Fortaleza. Frequentador do bar do Jorge, da venda do Cáindo, ele convivia com os caiçaras nas prosas. Pelo que soube, apenas um dia, em confusão de bêbado, quis matar o Toninho Caipira. De resto, vivia por ali, em companhia de outros paulistanos que vieram viver em Ubatuba no ideal de estarem mais próximos da natureza e mais livres em seus costumes.
Hiroíto, regularmente, dava umas aulas durante as prosas. Explicava o que vivíamos no Brasil. Era o final da década de 1970. Muita coisa a gente só escutava, mas outras eram levadas em consideração, contribuíram com nossos rumos de vida. Afinal, a gente está sempre aprendendo, né? Numa dessas ocasiões, ele discursou sobre barbárie. Logo eu e outros pensamos em barba e rimos, olhando para o João Barbudo, meu tio. "Vocês estão certos!" Segundo a fala dele, era uma classificação do tempo dos romanos antigos, dos desbarbados. Os demais povos, cultivadores da barba e diferentes nos modos da civilização latina, foram denominados de bárbaros, iam em sentido oposto à proposta dos romanos. "Ou seja", esclareceu Hiroíto, "quem quisesse conviver no Estado, no império deles, precisava abraçar os modos deles, escolher entre a barbárie e a civilização. Vocês entenderam?". Entendemos sim. Quase perguntei na época se ele havia fraquejado na escolha, mas deixei pra lá. Mais tarde, lendo o livro da vida dele, entendi as circunstâncias que o levaram na direção do crime.
Hoje, passado tanto tempo, penso que refletir sobre o assunto daquele tempo está atual. Parece que o ontem, com os simples caiçaras escutando aquele homem na aparência de doutor, é o hoje. Afinal, o Brasil não está vivendo uma escolha entre a barbárie e a civilização?
Nenhum comentário:
Postar um comentário