Um casarão na beira da estrada (Arquivo JRS) |
O Velho Brasiliano adorava um vinho e uma boa prosa. Nos entremeios cantava músicas sertanejas, das antigas. De vez em quando até trazia o pequeno rádio à pilha para que eu ouvisse um programa que ele gostava muito (O homem do sapato branco). Numa ocasião ele me contou uma história emocionante, ocorrida no município vizinho de São Luiz do Paraitinga. Tratava-se de uma família jovem, cuja esposa morreu durante o parto do filho, cabendo à ex-escrava Emília os cuidados com a criança. Nem bem tinha doze anos o menino Antônio, o viúvo se enamorou de uma jovenzinha, causando transtorno no adolescente. Foi com muito esforço que ele aceitou o casamento do pai. Não demorou muito para o rapaz ir embora, estudar em outra cidade. Nisso, do segundo casamento do pai, nasceu uma menina. Porém, a jovem mãe logo adoeceu e não houve quem a livrasse da morte. Novamente a escrava, que criara o primeiro filho, assumiu ser a mãe-de-leite da segunda criança. No primeiro período de férias, o rapaz retornou para conhecer a irmãzinha e estar mais perto do pai que sofria com a perda da segunda esposa. Era a "Mãe Emília" quem se devotava à menina que se chamava Laura. Com menos de um ano, a bondosa mulher percebeu algo estranho na criança: era cega. Nenhum médico conseguiu tratar da criança. Nasceu cega e cresceu cega. O irmão, Antônio, em todos os períodos de férias, se devotava à irmã, principalmente depois que o pai morreu por picada de cobra. Ele se formou em agronomia e se dedicou toda a vida a zelar pela felicidade da irmã cega. Viviam na mesma casa, juntos com Emília e seu parceiro Ezequiel; formavam uma única família. Ali vivem até os dias de hoje. É um lugar muito bonito, perto da estrada. Ai deles se não tivessem a "Mãe Emília"!
Agora, veja o que eu encontrei entre as narrativas da Idalina:
Hoje, quem passa pela estrada do arraial de São Luiz, se depara com uma fazendola escondida por entre árvores frutíferas que sombreiam a sua estrada. Mais além, primaveras de todas as cores derramam suas pétalas sobre a relva verde e macia que circundam o alpendre, enquanto um cão dorme preguiçosamente aos pés de sua dona.
Lauri, bela como um anjo, sorri docemente para o homem moço e esperto, apoiado a um rústico cajado, que lhe conta com minúcias sua última caçada. Um carro passa pela estrada. Nem mesmo assim Antônio desvia o olhar da criança feita mulher que não sente o tempo passar, porque o destino ingrato - mas sempre certo no roteiro de Deus - lhe roubou o maior bem que o ser humano possui na terra, a visão.
Estou quase acreditando que a história de saudoso Brasiliano é a mesma da Idalina. Laura poderia muito bem ser Lauri, você não concorda? Também me sinto atraído por aquele casarão à margem da rodovia Oswaldo Cruz, em São Luiz de Paraitinga. Imagino ter se dado ali essa história, onde Emília, filha da Mãe África, foi "Mãe Emília", aquela quem garantiu a existência daquela família. Que coisa!
Aquele casarão é encantador.
ResponderExcluirEu ainda busco uma chance para visitá-lo.
ResponderExcluirFui para Ubatuba pela primeira vez em dezembro 2020 e fiquei encantada com o casarão,apartir dali procurei desesperadamente por notícias ou fotos que pudesse contar a história dele.
ResponderExcluirGrata pela história,apartir daqui já sei como encontrar mais histórias!!
Amo essescasarões.