Aguatuba atual (Arquivo JRS) |
Volto nas recordações do ano de 1933. Estou na Estrada Imperial, me dirigindo a Ubatuba, no litoral norte paulista. Fizemos uma breve parada no alto da serra, no local denominado Aguatuba, para apreciar o mar lá de cima e tornar a encher o radiador da máquina. É uma visão bonita demais! Estou no primeiro carro a passar por essa estrada depois das tropas de burros. Será o primeiro a ser visto naquele lugar, naquela cidade logo ali. O dia? 21 de abril! Uma mata fechada parece querer engolir tudo. Somos quatro viajantes, e, pelo prometido, teremos uma acolhida sem igual. Luiz Silveira, representando o governador, será o grande honrado no evento.
A estrada, conforme o nome indica, é um caminho oficial há quase dois séculos, quando por ele passavam cargas com mercadorias de todo tipo, inclusive ouro, devidamente registrado, provindo de Minas Gerais pela Mantiqueira, pela serra de Passa Quatro. Essa via agora refeita, inclusive com trabalho de prisioneiros da Ilha Anchieta, está aberta aos carros. E lá vamos nós!
As rodas do veículo, devidamente com correntes para dar mais garra, não nos livrou de apuros, precisando em alguns pedaços deixar apenas o motorista arriscar nas manobras em curvas medonhas. Muito barro foi se acumulando em nossos calçados; até paramos num rio antes de chegar no centro da cidade para remover o que era possível. Ao longo da estrada, já no plano, poucas pessoas estão à nossa espera. Foguetes estourando ao longe indicam a proximidade do local da festa. Penso o quanto essa gente deve estranhar o barulho diferente, assustando passarinhos e bichos e soltando fumaça escura entre tanto verde.
Chegamos. Diante de uma praça, na esquina de um bonito sobrado, deixamos o carro. Uma multidão enchia o local. Era dia de festa mesmo! Decretado feriado, o povo acorreu ao local. Rojões rugiam; crianças, mulheres e homens, em seus melhores trajes, estavam admirados da nossa chegada naquele carro. também estavam contentes porque uma estrada aberta ao trânsito traria visitantes de outras regiões, estimularia o comércio. A economia baseada na pesca e na roça cederia lugar a outras tantas possibilidades. Enquanto acontecia o momento dos discursos, eu me dirigi à praia. Antes parei na igreja. Ali, defronte aquele edifício se arruinando, pensei nas esperanças reacendidas nessa gente, nessa cidade. Certamente tudo aquilo estaria diferente em breve tempo. Na praia, ao lado da cruz, imaginei as transformações futuras daquele lugar. Espero que sejam boas e tragam felicidade.