Praia do Itaguá - 1980. Aládio, Florindo e companheiros na costumeira redada. |
Até a minha infância ainda aparecia de vez em quando algum pasquim, que era um recurso de comunicação mais do que um simples bilhete no papel. Parecia uma poesia; alguns até chegavam a ter rimas.
Geralmente o pasquim era anônimo; muitas vezes trazia mensagem enigmática. Quando era nesta modalidade, demorava um pouco mais para se alastrar, mas era mais empolgante. Nessas horas era de muito valor os “intérpretes”, que mediavam o texto com fatos e pessoas. Tudo era misturado: conjecturas, deduções, intrigas, fofocas etc. Tornava-se, então, uma mensagem coletiva. Ao final, pensava eu: será que era isso mesmo que o autor quis passar?
O pasquim que fazia sucesso era aquele provocante, que repercutia por semanas. O saudoso João de Souza sempre produzia os seus para as ocasiões especiais. Se voltarmos no tempo, creio que função parecida tinha o jogral na Idade Média. O que importava era a transmissão da mensagem.
Numa ocasião, encontrei um pasquim no rancho de canoa do Licínio “Teteco”. Guardei-o por muito tempo. Até hoje não posso afirmar se entendi a mensagem. Eis o texto:
Tenho duas frutas; são abacates que passam do tempo.
Você não quer colher?
Elas podem empretejar no galho,
Se esborrachar no chão.
São saborosas. Isso eu garanto.
São bem saborosas.
Se aceitar, pegue o bordão
(Está na cepa da grumixameira),
Suba no juréu
E cutuque carinhosamente,
E macias mãos.
Deposite na altura e no lugar certo.
Depois não se apresse,
Não engula só com gula
(Mesmo sendo compreensível)
Ou voando noutros espaços.
É preciso estar preparado
Ou se preparar para comer.
Aguardo o sim ou não
Ansiosamente!
Você sabe o ponto
E a combinação que carece.
Assinado: quem não assina
E que mora depois do barranco.
Em certa ocasião, surpreendi o tio João e o primo Fernando elaborando um pasquim (O chifre no lagamar). Isto até hoje ninguém sabia.
Em certa ocasião, surpreendi o tio João e o primo Fernando elaborando um pasquim (O chifre no lagamar). Isto até hoje ninguém sabia.
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