Barcos no atracadouro do Saco da Ribeira, construído na direção da linha do jundu, em 1978, onde se localizava o Estaleiro Makyama (Foto de 2011) |
Um barco familiar está sendo reformado nas areias encharcadas do Acarau. Em cima, no convés, enxergo o Marquinhos e o Tico. Cumprimento-os com a saudade de alguns meses. Pergunto se aquela embarcação não é o Jota Passos. “É ele mesmo! Você conhece, Zé?”. Marquinhos ficou admirado. Afinal, da linha d’água para cima está totalmente novo, na madeira nova. Expliquei-lhe que o pequeno barco pesqueiro é inconfundível, principalmente porque, há aproximadamente quarenta anos, quando ele foi construído, eu frequentava o Estaleiro Makyama, no Saco da Ribeira. Ele tem linhas inconfundíveis. Eu, como a maioria dos caiçarinhas, era apaixonado por barcos.
Defronte aos Alexandrinos, de tradição naval reconhecida, é final da tarde. Pescadores chegam; a conversa se estica. Marquinhos insiste no assunto do Jota Passos. Informa que agora o pequeno pesqueiro ganhará um novo nome e terá por mestre um jovem ilhéu da Vitória. Pergunto-lhe porque está praticamente inteiro após tanto tempo. Imediatamente ele responde: “Isto é fácil de responder! É uma embarcação muito bem feita; por isso é que dura tanto tempo em atividade, sem praticamente nenhum reparo. O cavername está perfeito: só usaram ipê. No costado/calado a madeira é amendoim. É perfeita a embarcação porque os japoneses construíam na planta, atentos a todos os detalhes. Também, né!? Tinha uns jovens japoneses que eram feras na marcenaria! Agora, estão todos no Japão há muito tempo!”.
Antes de escurecer ainda tivemos tempo para recordar outros bons marceneiros navais, cujas embarcações ainda estão rompendo os mares. Muito nos orgulham os trabalhos de Zezinho Alexandrino, do Jacob Meira, do Chicão, do Dito Félix... Todos muito bons! O Zezinho, por exemplo, devido ao seu talento, aos vinte e poucos anos já estava ensinando a arte naval na Escola Técnica de Santos. “Ele batia o olho; se tivesse uma linha fora, ordenava desmanchar imediatamente para refazer”. Depois desta frase, acrescentou o Marquinhos: “É por isso que as suas obras continuam até hoje, que vale a pena reformá-las!”
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