Caramujo africano saboreando um galho de urtiga. É mole? |
O velho João Cabral, um caiçara que viveu mais tempo em Santos do que em Ubatuba, sempre arranjava um tempo para bebericar “uma mardita” e filosofar. Não sei dizer se estudou algum dia ou se era um talento nato daquele nativo do Perequê-mirim.
Em certa ocasião o João sumiu por uns dias. Depois disse que a culpa estava num “desarranjo intestinal”. Foi quando, com a barriga encostada no balcão de cimento queimado da Barraca do Tião, depois de algumas talagadas de ubatubana, explicou para três ou quatro ouvintes desocupados como o corpo pensa. O discurso foi mais ou menos assim:
“O corpo pensa, pessoal! Por que digo que o corpo pensa? Prestem atenção: se o corpo tem alma, ela (alma) está pelo corpo inteiro. Não posso aceitar que alguma parte deste miserável corpo é desprezado, sem alma. E a alma não é superior, pura inteligência? É inteligência por todo o corpo! Então o corpo pensa! Agora, por exemplo, por causa do que já bebi, estou pensando que já não estou bem para passar a pinguela de um pau só na Vala do Cunha. Posso cair e me machucar todo, não é mesmo? Eu não quero isso; dor não é coisa boa. Me digam: isso não é inteligência do corpo? Não é ele pensando?
Nesse instante interviu o Tadeu, um “pingalhada de fora” que sempre acompanhava o João:
- Sabe o que fez isso, Zé? É o resultado de uma semana de caganeira do nosso amigo! Também pudera: quase virou ao avesso!
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