Às margens do rio Ipiranguinha, quase chegando na cascata que é o ponto turístico do bairro, mora dona Maria, uma caiçara do Rio da Prata. Onde é este bairro? É verdade que muita gente nem faz ideia, mas tem uma justificativa: está meio que escondido, depois do Araribá, acompanhando a rodovia em direção a Caraguatatuba, antes de chegar à Tabatinga. “Era terra dos Barrasseca há muito tempo”.
A dona Maria teve uma vida muito diferente das mulheres caiçaras da sua época. Seu primeiro marido, “gente de fora” (migrante nordestino), após o casamento a levou em suas andanças atrás de trabalho por diversas cidades e estados. Assim conheceu cidades grandes e viveu em lugares ermos. A sua narrativa do tempo em que trabalharam para fazendeiros em meio a florestas em Mato Grosso é impressionante! “As onças rondavam a casa de noite”. Depois disso retornaram para Ubatuba, foram contratados por um proprietário na praia do Flamengo.
Um belo dia, ao retornar com a embarcação de uma viagem ao Saco da Ribeira, o seu primeiro esposo teve um ataque cardíaco na arrebentação das ondas. Morreu antes de encalhar a canoa no lagamar. “Foi um compadre nosso que acudiu o coitado”. Ficou viúva com os primeiros filhos. Veio para a cidade trabalhar como empregada doméstica e acabar de criar as crianças.
Logo um imigrante (húngaro) relojoeiro, estabelecido no centro, se engraçou e tomou a dona Maria como companheira pelo resto da vida. Nesse tempo vieram morar na bonita área da beira da cachoeira. Outras crianças se somaram às primeiras. “Nós fomos felizes nesse lugar!”,
Novamente viúva, agora com os filhos praticamente criados, só restou como companhia o varão Zarur. Era com os dois que eu sempre, aos sábados, ia tomar um café e prosear. Dona Maria, a "minha vó Maria”, contou muitos detalhes que estão na lembrança, sobretudo da fartura de tudo quando criança. O filho artesão, um dia goleiro do time do Saco da Ribeira (Recurso Futebol Clube),companheiro do humilde chalé, também se foi levado pelo câncer. Os outros filhos e a netalhada estão por aí. O que continua a embalar a vida da vó caiçara é o barulho da cachoeira. “Essa companhia eu sei que não me deixará!”
Benção vó Maria!
linda história!!! benção vó!
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