Manoel Hilário, quando já passava dos oitenta anos, afirmou que assombração – ou “coisa ruim” – existe sim. Ele contou assim:
“Numa ocasião, seria agosto ou setembro, eu e o Toninho Manduca saímos para o mato, pra tirar coco brejaúba, aquele de planta repleta de espinhos pontiagudos e compridos, perigoso mesmo! Encontramos uma touceira com alguns cachos bonitos. Estocamos com uma vara, derrubamos alguns cocos para experimentar se estavam bons. Estavam no ponto. Pegamos o facão e usamos uma raiz de figueira para apoiar e cortar os frutos. Nisso escutei um assobio forte, mas bem fininho. Depois escutei mais uma vez e me arrepiei todo. Olhei assustado para o Manduca e perguntei se ele tinha escutado. Ele estava pálido e arrepiado como eu. Então outro assobio começou e se prolongou mais que os outros, e uma voz esquisita ecoou bem próximo de nós. Olhamos para o lado dos coqueiros de brejaúba e vimos uma coisa assombrosa: havia uma figura humana barbuda e cabeluda, bem no meio dos espinhos da touceira. Ora, aquilo é fechado, não tem jeito de gente viva entrar naquele espinheiro. E o assobio, que entrava até na alma da gente? Aquilo só podia ser coisa ruim. Disparamos a correr pra casa largando lá mesmo os cocos, facão e até os chinelos”.
Manoel Hilário terminou a história com os olhos arregalados como se tivesse acabado de ver aquela misteriosa figura.
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