Em outras ocasiões eu já contei das lições, da doutrina da tia Maria da Barra. Espero que ninguém desconheça, por exemplo, dos Judas (Matadeus e Carioca), já publicado há alguns meses.
Morando no jundu da praia da Fortaleza, a titia sempre adorava contar causos com um toque religioso. Afinal, foi desse modo, pela tradição oral, que se forjou a religiosidade bonita do ser caiçara. Neste momento retorno no tempo para que todos aprendam a lição do purgatório segundo a minha saudosa parenta.
Desde cedo estávamos acostumados a ouvir a palavra purgatório; sempre a associamos ao inseto (pulga), pois era comum os comentários das “marcas de purga” nas roupas. Ainda bem que a titia assim me esclareceu:
- Não seja bocó! Coisa antiga é o purgatório! É céu de segunda catigoria. Desse modo compreendi adespois da pregação do padre João.
- Como assim, titia?
- Bote reparo no que vô dizê: o vosso tio me trocô por’otra; agora vive no Cedro. Ainda não sei quem vai falecê na frente: se ele ou eu. Caso seja ele, é certo que não vai pro céu, mas também no inferno não é o lugá dele (porque não é tão mardoso anssim). Então, egiste o purgatório pra gente anssim, pra caso como o do vosso tio. De lá, adespois de bastante reza minha e da otra, de oferenda para a ingreja, passando uma temporada, ele sobe pra junto de Nosso Senhor Jesuis Cristo; fica no céu pra sempre.
- Então, titia, na verdade o purgatório é um inferno fraquinho!
- É isso, minino! Desdigo o que disse e digo de novo: purgatório é um inferno de segunda catigoria! Aprendeu agora?
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