domingo, 10 de julho de 2011

Zé Barreto

               
               Infelizmente muitos não conheceram o Zequita, apelido familiar do primo José Barreto, um caiçara da Praia da Fortaleza que exerceu  mandatos na vereança na década de 1980. Era o Barreto, o vereador  sarrista, irônico e algumas vezes polêmico.
                Zequita se fazia de bobo para pegar os bobos. Apesar de criticá-lo em algumas ocasiões, eu o admirava pela sagacidade, pela forma engraçada de induzir ou abordar coisas que nem sérias pareciam. Muitas vezes, quando eu trabalhava na reforma de sua casa na Fortaleza,  à mesa ele esquecia o prato para falar sobre os discursos na Câmara.
                Em certa ocasião, para dar um fim à discussão sobre a compra do Casarão do Guisard, onde mais tarde foi a sede da Fundart (fundação cultural da cidade), o “Voto de Minerva” cabia a ele. O que estava em votação era o tombamento do prédio histórico do período cafeeiro como patrimônio cultural. Assim ele contou como concluiu o seu discurso que justificava o voto favorável ao tombamento: “Eu voto favorável ao tombamento. Tenho certeza que todo mundo tem a vontade de tombar aquele prédio velho que enfeia o centro da cidade. Ainda nesta semana, um pescador de traineira, depois de descarregar uma carga de sororoca, passou no meu armazém e disse o quanto aquilo deixa feio a boca da barra”.  E ele ria gostosamente do riso que provocara nos outros. Não sei se foi assim mesmo. Só sei que o prédio ainda hoje está se aguentando como mostra de um período próspero da nossa cidade.
                Hoje, diante do lastimável estado de conservação do Casarão, ele provavelmente diria isso: “O sino da igreja parece anunciar um enterro. Estou feito um molambo: bem puído e sujo. Por que não me tombaram de verdade? Sabe de uma coisa, Zé? Só pode ser a raposa a responsável pela crise do galinheiro!”. E a gente daria ótimas risadas com tais tiradas do saudoso Barreto.

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