Não muito tempo atrás, os caipiras, moradores de "serra acima", procuravam o município de Ubatuba para ganhar "um dinheirinho". Muitos deles vieram, gostaram e por aqui ficaram. Deles tenho ótimas lembranças quando, na casa do meu avô Almiro, após o jantar, ficávamos escutando suas histórias. Arrepios percorriam nossos corpos. De vez em quando, alguém enxugava discretamente as lágrimas. Difícil era depois, devido ao medo, se dirigir ao quarto para dormir.
Se não me falha a memória, todos os caipiras de “serra acima” eram contadores de histórias de grande empolgação. De Vargem Grande veio o José Sibi.
Hoje, homenageando todos os caipiras, principalmente os descendentes daqueles que com os meus familiares conviveram, dou a conhecer o causo da bruxa, conforme nos contou o saudoso Sibi.
Ele contou sobre uma bruxa que lá viveu nos idos de 1950. Era uma mulher conhecedora de plantas e remédios, sabia da vida dos outros e se intrometia fazendo seus trabalhos. Todos tinham muito medo dos seus supostos poderes e da sua maldade. Ninguém conseguia esconder segredo algum dela. Os seus desafetos corriam perigo, e se alguém adoecia de repente e morria, pensavam logo que era obra de sua feitiçaria.
Cansados de sofrer com o medo e querendo se livrar da ameaça de ter uma bruxa por perto, os moradores tramaram acabar com a sua vida. Se armaram e invadiram a casa da mulher que, surpreendida por aquele bando, fugiu e foi perseguida até ser encurralada. Não havia saída para ela. Então, o inesperado e inimaginável aconteceu: a bruxa se transformou numa pata branca, bateu asas e saiu voando.
Assim a bruxa pôde voltar para sua casa e nunca mais pessoa alguma se atreveu a atentar contra a sua vida. Depois disso, as pessoas do lugar se aterrorizavam ao ver patos voando por sobre suas casas ou pousando sobre seus telhados.
Um dia a tal mulher sumiu sem deixar rastro. O lugar da sua casa foi tomado pelo mato e hoje poucos se lembram do pavor que ela causou.
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