O meu amigo Ademar, caiçara criado com jangolengo, saquaritá, sapinhaoá, preguaí, guaiá, santola, pindá e tantas outras coisas boas deste universo praiano, certa vez me contou da “Gruta do Caminho da Cidade”. Trata-se de uma gruta na pedra, entre a barra do Rio Grande e a praia do Perequê-açu.
A narrativa do Ademar foi emocionante, sobretudo porque ele falou de coisas de sua infância, de um lugar onde brincou bastante:
“Era um tempo bom; a gente não tinha preocupação com nada. Todo mundo se conhecia. Era no morro que a gente buscava brejaúba, palmito e mais coisas ainda. Bem no alto, pra cima da gruta, tinha um lago pequeno de uma água muito limpa, onde a gente parava para tomar água sempre que andava por ali. A água que descia, antes de alcançar o mangue, passava pela bica da dona Benedita, que era muito amiga da finada mamãe. Hoje não se vê nenhuma água por ali. O laguinho não tem mais. Em relação à gruta, dizem muitas coisas. Só sei dizer que até gente de fora já veio para fazer não sei o quê. Quando eu era mais moço, um casal de argentinos, entrou nela. Trouxeram equipamentos. Dizem que ficaram por aqui alguns dias, mas depois foram embora sem comentar nada com ninguém. Eu até tenho vontade de fazer uma aventura assim, mas tenho medo. Os mais velhos diziam que era lugar de assombração. A neta da dona Benedita, que de vez em quando brincava com a minha irmã, sempre disse que de lá, tarde da noite, vinha uns barulhos estranhos, que dava medo. Eu acreditava porque a casa delas era bem perto da gruta”.
O meu amigo ainda detalhou mais duas grutas existentes entre a Prainha do Padre e a Praia do Perequê-açu. Isso foi no final de década de 1970. Eu espero conhecê-las um dia.
Sabe por que estou escrevendo isso depois de tanto tempo? Inspirei-me depois de ter lido um artigo do amigo Júlio em relação à Gruta que chora. É, na verdade, mais um lugar que está maltratado, perdendo um potencial turístico.
Tal como o atrativo da Praia da Sununga, assim é a “Gruta do Caminho da Cidade”. Hoje, no corre-corre, nem sei se alguém repara nela. Desconfio que os passantes nem imaginam a riqueza cultural daquele lugar.
Com base na prosa com o Ademar, os antigos falavam coisas fantásticas, histórias que poderiam gerar até divisas através de um turismo cultural. Uma delas, por exemplo, afirmava que, na parte superior da gruta há uma passagem estreita para uma caverna maior, com acesso à Prainha do Padre, onde os índios tupinambás guardavam seus tesouros. Outra versão dizia que o local abrigou os piratas e suas riquezas. Já ouvi até que os índios, ao perceberem que seriam mortos pelos portugueses, se fecharam nessa imensa caverna para sempre.
É, tem muito ainda neste universo caiçara que merece ser amado, estudado e divulgado!
Para finalizar, lembro a fala do Mané Hilário quando perguntado sobre a gruta tão desprezada:
“É o buraco da Dita, né? É porque ela [Dita] morava do lado. Ela tinha...era ela, o filho (Antonio Bento) e uma neta, filha do Antonio Bento: a Benedita, que às vezes eu falo aqui em casa dela, era bonitinha pra danado! Foi embora. Casou com um português e não vortô mais pra Ubatuba. E a Dita faleceu aqui mesmo. Então, todo mundo olhava e... ‘Ah! O buraco da Dita, o buraco da Dita! Esse buraco da Dita vai saí na prainha’. Então eu dizia: ‘que diacho de buraco mais grande que vai vará de um lado pro outro!?’ Mas não é não... é conversa do pessoá, né? Ainda tem lá o... Agora, na semana passada, eu passei de carro lá, olhei e disse assim: ‘Olha o buraco. O buraco da velha Dita tá ali. Ela se foi e o buraco ficou’. É assim, né?”
Olá Ronaldo:
ResponderExcluirQual é a profundidade do buraco? Vc tem uma foto melhor de dentro dele? Por favor responda para paleotocas@gmail.com .
Muito obrigado,
Henrique