Sempre estamos perdendo caiçaras. Nestes dias perdemos o caiçara Isaac Antonio. Ontem, oito de julho, foi a celebração do sétimo dia de sua morte, uma tradição do catolicismo.
A igreja do Itaguá, além dos pais e numerosos parentes, também acolheu muitos amigos. Todos queriam expressar mais do que um sentimento religioso. A emoção mais forte era a de pertencer a uma cultura. Por isso eu, no momento do ato religioso, definia o misticismo como a convicção de pertencer a um grupo e de querer se encontrar sempre para se sentir fortalecido em torno de ideais semelhantes. É essa mística que põe em comunhão as lembranças e os viventes; fortalece uma memória; não deixa que os membros esmoreçam apesar das atribulações de todas as épocas.
Uma das últimas conversas que tive com o Isaac, ele me confessou da admiração por determinados nomes do bairro que não se corromperam, não traíram aqueles princípios que estão na base da vida comunitária. Depois, dedilhando o violão, recordando Beto Guedes, cantamos juntos, bem em frente à Praia do Acaraú, sentados sob um abricoeiro, algumas das suas músicas preferidas. Por fim, repetiu: “É, Zé! É preciso recriar o paraíso agora para merecer quem vem depois!”.
Isaac, Janguinho, Aristides, Preciosa, Santana, Dorcas, tantos e tantas caiçaras que nos deixaram recentemente, assim como os finados de tempos imemoriais, estão vivos porque deles nos lembramos pelo ser caiçara que testemunharam. É essa a comunhão de maior valor.
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