Homenageando o pessoal do Morro do Funhanhado, aos novos amigos que aguardam o nosso primeiro encontro, cidadãos ativos deste município acolhedor, narro agora um causo contado nos idos de 1970 pelo “Funhanhado”, um roceiro- pescador paratiano que, no sertão do Perequê-mirim se instalou e constituiu, com dona Domingas, numerosa descendência. O Benedito passou a ser Funhanhado porque era a sua expressão usual. Em qualquer momento, chegando ou saindo do espaço, ele lascava o “tá funhanhado”.
Ainda me lembro muito bem desse cidadão caiçara e de seu irmão Elídio descendo a longa estrada como se eles fossem Dom Quixote e Sancho Pança. Diziam sempre que estavam com pressa (geralmente pescavam para o Eduardinho, na Enseada), mas sempre davam “um dedo de prosa”. O causo presente remete-nos à Mercearia e Padaria do Maciel, que se localizava na esquina oposta ao Hotel São Charbel, onde funcionava o Bar Elite, na área central da cidade de Ubatuba, onde hoje tem início o calçadão. Desse jeito contaram-me rindo os dois irmãos:
- Sabe Zé, o barconista do Macié, o tar de Malaquias “Enferrujado”? Não é que o danado pregou uma boa num caipira! Isso foi tresantontem, na virada da tarde. Foi desse modo: o coitado esperava a condução pra São Luiz; ainda ia demorá muito pro bondão saí. Deu sede no homi. Então ele encostô no barcão e pediu ‘uma caneca d’água’. Prontamente o “Enferrujado” atendeu. Também, tava um sor que Deus deu!
E continuaram depois que eu disse: “E o que tem isso?”
- Satisfeito por abrandá a secura e a sede, o homi gradeceu. Até tirô o chapé no dizê obrigado. Nessa hora o barconista disse: “Obrigado não! Pode pagá”. Você precisava vê o olho que o homi arregalô! Bem assustado retrucô: “Eu tenho que pagá a água?”. Assim que o Malaquias confirmô com a cabeça, ele, exartado, falô: “Tenho que pagá? Pela água da tornera tenho de pagá? Em minha terra, perto de Catuçaba, água é de graça! E olhe que é melhor que esta dai! Quase rindo o maroto virou a tornera, dexô escorrê água e perguntô: “Ela sai da tornera assim?”. Na hora disse o caipira: “É cla’que não! Não tem isso de tornera! Água lá é livre! Corre fresquinha entre mato e pedra! Deu sede, é só agachá e tomá no rego!”.
Foi quando o Elídio acrescentou:
- E sabe d’uma coisa, Zé? Nessa hora todo mundo tava rindo do coitado. Foi quando ele viu que tudo era brincadeira do Malaquias. Bamo indo, Bidito?
O seu irmão, apressado como de costume, encerrou a prosa:
- E isso de tomá no rego? Tá funhanhado!
José Ronaldo, obrigada por dar-nos a conhecer a origem do nome popular do morro, bem como a condição dos que aqui residem ;-)
ResponderExcluirMarlene, direto do morro do Funhanhado