O meu padrinho Tobias (Patobi) foi por muito tempo pescador de baleias neste trecho de litoral sul (desde Cabo Frio até o Rio Grande do Sul). Dele escutei histórias fantásticas! Como eu sonhei com a vida de embarcado em um grande barco pesqueiro, tal com o “Taurus” na minha infância!
Ele era detalhista, sabia descrever lugares como ninguém. Pensei nele e nas suas narrativas nestes dias de apreensão em torno de vazamentos em usinas atômicas japonesas. Certa vez, embaixo de um abricoeiro na praia do Sapê, ele recordava de uma convivência na praia de Itaorna. Para quem não sabe ainda, esta praia está no município de Angra dos Reis, no Rio de Janeiro. Nela foram construídas as usinas nucleares Angra I e II, com previsão de outras duas saírem do papel.
Patobi, pernoitando naquela praia em 1974, estabeleceu alguns laços de amizade. Uma foi-lhe especial até o fim da vida: Tonico “Tié”, um caiçara pescador-roceiro local.
O “Tié” e o Patobi se visitavam sempre; tinham saudades um do outro. Foi quem explicou um absurdo que estava para acontecer: a construção de uma usina atômica. Quando questionei sobre isto, ele explicou do modo dele: “É um lugar que vai gerar energia, mas de forma muito perigosa. Alguns entendidos dizem que se houver um vazamento, a gente morre sem perceber. É como se o ar ficasse contaminado”.
E continuou: “Mas o pior, segundo o ‘Tié’, é o trabalho de engenharia que não considerou a sabedoria indígena. Itaorna quer dizer ‘pedra podre’, coisa que não serve de base para uma obra que tem de ser inabalável”.
Esta lição eu aprendi do Patobi: os antigos tinham uma razão para denominar os lugares, os seres e até mesmo os nomes pessoais. Prova disso que, depois de tanto dinheiro investido naquelas usinas, elas são chamadas de “usinas vaga-lumes”. Afinal, o que esperar de uma coisa que começou capengando já no alicerce.
Em tempo:
A Praia Brava de Itaorna era um lugar maravilhoso, piscoso, com um jundu lindo e uma população de caiçaras bem acolhedora.
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