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Estampas (Arquivo JRS) |
Estamos sujeitos a todos os contágios.
Nós todos! Pode ser uma doença causada por seres microscópicos que se espalham
pelo ar, ou uma ideia diferente que, de repente, surge no horizonte das
nossas reflexões. Pode ser qualquer coisa! Por exemplo: a noção de justiça.
Nesses dias, vivendo uma pandemia, vemos atitudes que, declaradamente,
objetivam a exterminar os mais pobres, os marginalizados que "impedem" os lucros
de uma minoria. É assim, bem declarado! Por isso os centros de atendimentos aos
moradores de ruas e usuários estão sendo desativados, com violência policial
aos que resistem às ordens das autoridades. Por isso também que os postos de
assistências aos indígenas estão sendo desativados, que os médicos contratados
de outros países foram mandados embora etc. E o que dizer dos auxílios milionários imediatos aos banqueiros e grandes empresários, enquanto que a quantia
vergonhosa aprovada como esmola aos mais necessitados vai se esbarrando em
barreiras ridículas, em argumentos falaciosos? Quem não vê que a justiça tem
lado, que as injustiças grassaram porque o país agora tem um ser maldoso
liderando, no comando porque uma potência externa assim direcionou? Quem votou
no presidente que, desde sempre, estimulou o ódio contra as minorias deve se
sentir culpado. Quem deixou de votar também tem parceria nisso porque deixou de
sustentar um lado melhor. Os que sustentam esses absurdos governamentais
até hoje são mais responsáveis ainda pelo retrocesso nas condições sociais tão
notórias!
Na nossa realidade de Ubatuba: onde
erramos ao ver pobres migrantes sendo contra eles mesmos, contra irmãos mais
pobres ainda? O que deixamos de fazer para chegar a esse ponto de tantos
caiçaras serem tão tontos, apoiando as maldades institucionais que se
fortaleceram? Atitudes assim vão afastando famílias, matando os laços de
pertença a um grupo social e enfraquecendo a cultura. Não foi assim que a
religiosidade indígena, totalmente atrelada aos valores da vida comunitária,
foi apagada de nosso mapa cultural? Meu tio querido diz que estamos distantes
agora, "um pouco longe um do outro". É verdade mesmo! Seus filhos, ao votarem nessa coisa que aí está, compactuam com princípios de ódio, apoiam valores desvinculados da nossa
raiz cultural e afirmam que o sucesso da economia é mais importante que as
vidas a serem perdidas na atual pandemia. De onde vem essa formação? E continuam sendo católicos! Não, não
quero estreitar distâncias com ideais assim! Imagino que, caso haja a
possibilidade de questionamento, certamente ouvirei: “É a modernidade, Zezinho. Ela dificulta o diálogo. Tem que ter amor,
ser paciente”. Se as condições para o diálogo é a negação do outro, dos
injustiçados; se é a aceitação do abandono da justiça (porque a economia, o bem-estar
de uma minoria deve prevalecer), eu me recuso até mesmo em reencontrar aqueles
que são galhos da mesma árvore. Somos capazes de ser divinos. (Muitas ações, sobretudo nestes dias angustiantes, merecem gratidão e devem se reproduzir). O desafio é peregrinar
em direção a uma divindade humilde. Esta sim nos livrará da violência entre
irmãos e reavivará nossa fraternidade. É
isso que deve contagiar toda a Terra!
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Ainda há esperança (Arquivo JRS) |
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