sexta-feira, 24 de abril de 2020

SOMOS ESTRELAS

Helena, minha sogra (Arquivo JRS)


                Nascemos após um breve tempo aninhados no útero quente de uma mulher. Ela se torna a nossa mãe. Coisa maravilhosa mostrar ao mundo um novo ser! Não é à toa que as primeiras divindades à nossa imagem e semelhança eram femininas!

                Uma vez neste mundo, começa a nossa luta para manter a vida. E vale a pena lutar! Um ditado dos antigos diz: “Se a morte é um descanso, prefiro viver cansado”. Vamos driblando a morte, criamos cultura para adiá-la ao máximo, investimos na ciência neste ideal:  ter uma vida feliz. Mas a morte vem porque ela é parte da vida. Cada um de nós é uma estrela: nascemos, alcançamos um momento de maior fulgor e vamos perdendo energia, se apagando.

                Tal como uma estrela, um desses corpos brilhantes que se irmanam com o Sol no infinito espaço sideral, de vida alimentada nós nos tornamos alimentadores de vida. E geramos outras vidas! E essas vidas, um dia dependentes de nós, gerarão outras vidas... e outras... e outras... Nossas energias se esvaem em outras energias, chegam a um fim aparente que chamamos de morte. Na verdade, elas tinham uma função e a cumpriram. Se bem ou mal é apenas uma questão moral.

                Ontem a minha sogra completou parte de seu trabalho. A minha Gal, bem como seus irmãos, netos e netas, herdou parte dessa energia que se compôs, se espalhou e agora retorna aos braços da Mãe Terra. Como todo ser vivente, os elementos provenientes do chão voltam a enriquecer o chão depois de espalharem um volume de energia indizível pelo ar. A vida é um milagre assim como a morte é o sentido quase derradeiro desse milagre, porque a última razão está a cargo dos que continuam viventes, pois preservar a memória é continuar recebendo energia dessa vida que se foi à outra condição. Mas é energia! Quem não continua se espelhando em tantos outros que já não estão presentes fisicamente? De vez em quando dou uma despertada para pensar: “Os avós que tanto admirei emprestam seus nomes à Maria Eugênia e ao Estevan José, neles continuam como energia... A minha mãe me transmitiu o desejo de viajar, de prestar atenção nas falas de todos... O meu pai me ensinou os ofícios de pedreiro e carpinteiro, de buscar os sinais da natureza... E de onde vem as habilidades da minha Gal e as energias que recebo dela? Grande parte nasceu das energias dessa mulher que a gerou!".

É isso! Somos estrelas, mas nosso apagão é aparente! Viajamos num sentido, mas continuamos a viagem com outras luzes! Somos estrelas, ajuntamos energias para depois dispersá-las em formas de vidas. No céu estrelado, cada estrela tem a sua distância de nós, mas todas juntas, brilhando de seus lugares, resultam no nosso encantamento! Repleto de orgulho da minha Gal, tenho certeza que a dona Helena fez bem a parte dela!

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