segunda-feira, 2 de setembro de 2013

SONHO DE UM GUAPURUVU



              O meu amigo Júlio continua atento e cheio de sensibilidade diante de tudo que vê. Na verdade, ele enxerga onde a gente nem consegue ver.
           
       Já o meu estimado Elias disse, ao ler o texto: "Recordei-me de um guapurubu que tinha no cafeeiro de meu avô Silvano , que se tornou em uma canoa ( Lindo Luar) de meu Velho Pai , feito pelas mãos do tio Pedro Rosa. Saudades ..."

    Já cumpri com meu divino dever: reflorestei, dei sombra fresca, produzi ar puro, abriguei passarinhos, alimentei formigas, oxigenei a terra. Nesse meu período de vida, vislumbrei a vocação e o destino de meus pais: ser navegante! Mas o destino a Deus pertence. Hoje me encontro velho, seco, sem vida e com o destino de em breve me desintegrar na terra. Não foi esse o destino de meus pais. Não é esse o fim que eu quero.              Quero ainda poder navegar, morar num ranchinho à beira da praia, rolar em rolo e beijar o mar. Quero pescar, balançar nas marolas, carregar pescador, sentir o vento na proa, quilhar na popa em rumo a parcéis. Quero ser livre, seguir o clarão do sol e voltar no rastro da lua. Quero ouvir o canto dos goetes, quero o encanto das sereias, a benção de Iemanjá...
   Estou com medo. O tempo está passando e ninguém vem me buscar. Pica-paus e baitacas já me fazem buracos para seus ninhos. Minhas raízes interromperam o sulco da terra, não bebo mais água, não oxigeno mais. Por favor, não me deixem aqui! Daqui a pouco vem um sudoeste qualquer e me põe no chão e cai também o meu sonho de ser navegante.
     Se me ajudarem saio daqui e, igual papai e mamãe, me torno canoa, navegante e me findo no mar. Quero que me pintem de verde e amarelo e me deem o nome de Ícaro. Vou navegar ao sol, derreter-me ao tempo e diluir-me no mar.
      Quero ser canoa! Quero navegar!
     Na mata, em breve, findarei. No mar vida nova terei.
     Sou Guapurubu, dos tupinambás, dos caiçaras... Sou do lugar de muitas canoas. Sou de Ubatuba e moro no morro do Félix.
Venham! Venham me buscar!

Fonte: O Guaruçá

Detalhe: além de outros nomes, a árvore em questão também é conhecida como capurubu.

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