O caiçara Edson Silva, filho do pescador Antonio Atanázio, é muito considerado pelas fotografias antigas de Ubatuba. Porém, ele sabe muito de histórias da nossa gente; descreve com muita propriedade a trajetória da cidade de Ubatuba desde a construção da primeira rodovia (Ubatuba-Taubaté) a nos interligar com os municípios vizinhos. Deste cidadão (tão pouco reconhecido pelas nossas autoridades em seu compromisso com a história local) é o texto que agora apresento:
Desde 1937, quando foi enviado à Câmara o primeiro projeto de
lei para instituir o Brasão do Município de Ubatuba, permanece uma dúvida
quanto à sua legalidade.
Segundo Washington de Oliveira, popularmente chamado "Seu Filhinho",
o projeto enviado à Câmara não chegou a ser aprovado e, até hoje, muitas
modificações foram feitas sem contudo verificar se o faziam corretamente.
Segundo ele, em 1937, por ocasião do III Centenário de Ubatuba, a Prefeitura,
em colaboração com o Instituto Histórico e Geográfico de São Paulo, promoveu
solenidade para comemorar o acontecimento.. Aquele instituto solicitou do
heraldista José Wasth Rodrigues a elaboração do obelisco a ser inaugurado na
Praça da Matriz, ele ficasse perpetuado em bronze. Entretanto, tudo foi
planejado e executado precipitadamente, devido o curto prazo de tempo e as
dificuldades da época. Na data das festividades, 28 de outubro de 1937, o então
prefeito Washington de Oliveira enviou à Câmara o projeto de lei redigido nos
seguintes termos:
"Artigo II - Revogam-se as disposições em contrário.
Justificativa
A cruz, peça honrosa de primeiríssima ordem, que alteia no escudo e se
apresenta com esplendor de ouro, consagra o seu orado e lembra o nome que lhe
foi dado pelo seu fundador, Jordão Homem da Costa, depois de afastados os
selvagens tamoios, oficialmente legalizados, Exaltação da Santa Cruz do
Salvador de Ubatuba. Em memória, diz Eugênio Egas, de haver a cruz empunhada
pelos missionários José de Anchieta e outros.
Ubatuba, palavra de origem indígena, significando sítio abundante de ubás
(caniços silvestres) é lembrada pelos dois caniços, cruzados ao pé da cruz.
Finalmente, a canoa com cinco remadores navegando no mar, rememora a atividade
dos indígenas estabelecidos nesta região. Os 5 remadores são: Cunhambebe,
Aimberê, Pindobuçu, Coaquira e Araraí. Eles eram chefes da 5 tribos Tupinambá
que formaram a Confederação dos Tamoios. Serve de timbre ao escudo, a coroa mural
de ouro convencionalmente adotada para caracterizar as armas dos municípios e
cidades.
Conclusão
A Câmara recebeu o projeto para aprovação que desse forma legal, "o bronze
do obelisco" fosse ostentado nos papéis e atos oficiais do município.
Entretanto, naquela época, as sessões se realizavam quinzenalmente e, no dia 10
de novembro, 13 dias após ser enviado à Câmara o projeto, o Presidente Getúlio
Vargas , implantou no País o Estado Novo e na Constituição que outorgou, aboliu
todos os símbolos, armas, hinos e bandeiras regionais. Segundo "Seu
Filhinho", nem a Câmara votou o projeto, nem o prefeito formalizou por
decreto. Em 1946, a Constituição restabeleceu armas, hinos, bandeiras e
brasões; no entanto aqui, os governantes adotaram-na sem o cuidado de verificar
se o faziam legal ou impropriamente."
Modificações
Posteriormente, o brasão sofreu várias modificações baseadas na Lei nº. 4/1957.
Foi feita a revisão pelo heraldista Salvador Thaumaturgo que sofreu a seguinte
modificação: a) o escudo francês foi substituído pelo português; b) a Cruz
perdeu o resplendor de ouro e, do pé, foram suprimidos os dois ramos de ubá em
aspas brocantes de verde;
c) como ornamento foi acrescentado um listel de prata
com as indicações: 1637 - Ubatuba - 1855;
d) acrescentou como suporte dois
ramos de ubás, floridos, ao natural. A primeira data (1637) indicava o ano de
elevação da Vila da Exaltação da Santa Cruz do Salvador de Ubatuba e a segunda
1855, a data de elevação a comarca.
A segunda modificação se deu em 1967, instituída pela Lei nº. 120, de 25 de
agosto de 1967. O heraldista Alcindo Antônio Peixoto de Faria fez a revisão do
brasão que teve a seguinte alteração: voltou o resplendor à cruz e, no listel,
suprimiram as datas e acrescentaram a frase latina - Unitatem Servavit Patriae
Et Fidei - que se traduz: Conservou a Unidade da Pátria e da Fé, Legenda de
Ibraim Nobre e do Padre Viotti. Essa legenda reafirma a hipótese de que Ubatuba
é o berço da unidade nacional, marcado pelo acontecimento que passou a figurar
na história do Brasil com o título de PAZ DE IPEROIG. Isso ocorreu em 1563,
quando José de Anchieta conseguiu o acordo de paz entre as 5 tribos tupinambá,
que formaram a Confederação dos Tamoios, portugueses e as tribos Tupinambá do
Rio de Janeiro aliadas dos franceses de Villegaignon. Pois se os calvinistas
franceses tivessem permanecido aqui, as lutas religiosas que então se
processavam na Europa, teriam se transportado para cá, e conseqüentemente o
Brasil seria dividido em três regiões: a do sul e norte, católicos e de língua
portuguesa e no centro calvinistas e língua francesa.
Este é original, de 1937. |
Opiniões
Enquanto uns consideram que o brasão oficial é o último aprovado pela Câmara em
25 de agosto de 1967, outros acham que foi aprovada apenas a modificação de um
projeto que não havia, e portanto, não é considerado legal. Há também os que
não concordam com essas modificações sem que haja um argumento importante. Isso
porque, além do primeiro brasão elaborado ser tão lindo e expressivo quanto os
outros, ele está perpetuado no obelisco da Praça da Matriz, marcando o III
Centenário da cidade, e que nunca poderá ser retirado, e também evitaria que
cada monumento da cidade tivesse um brasão diferente.
Pesquisa: Edson Silva
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