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A amiga Fátima Souza, caiçara do Itaguá, a partir da festa (Caiçarada), tece importantes comentários dos rumos da cultura caiçara, sobretudo da situação pesqueira - e do pescador! - em Ubatuba. Volto a dizer: é uma pena que a "máquina municipal" não aproveite o talento de pessoas como essa amiga. Teríamos "uma mão na roda" no turismo cultural!
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O legítimo caiçara era aquele que tinha vida própria. Diferente do caiçara de hoje que segue as normas da globalização. Que pressionado pelo caminho evolutivo, tenta manter suas tradições tanto quanto possível, mas bastante deturpado pelo progresso que Ubatuba atingiu. Um progresso que lhe apresenta melhores condições de vida, mas que na verdade é somente um foco ilusório. Muitos desses remanescentes de caiçaras de vida própria tiveram que se desfazer de suas propriedades, terras onde viviam tranquilos para irem viver na cidade contraindo uma vida de incertezas e preocupações. De 1500 ao começo do século XX, os caiçaras usavam técnicas não predatórias, tanto na pesca como na lavoura. Então essa vida própria se dava pela organização social econômica chamada de “Quinhões”. Muito mais lucrativa naquilo que lhes cabia. Naquilo que lhes era possível de trabalhar. Na pesca, um pescador camarada ou proprietário de rede, por exemplo, tinham lucro certo e exato. Como não tinha mercado de peixe, o pescador vendia seu produto diretamente na cidade. Eles faziam o preço do peixe em fieiras ou balaios, e tinham o lucro certo. Hoje o pescador vive quase e exclusivamente como um assalariado. Ele não tem rede, não tem barco, e se tem barco e rede depende do mercantilismo do peixe feito pelo intermediário que não sabe o que é passar um perrengue no mar. Nunca molhou o pé na água salgada, mas vive bem com os lucros obtidos pelos preços elevados. Usufrui assim do lucro que o pescador não tem. Essa mudança se deu por volta dos anos de 1920-1940 quando novas técnicas de pesca foram incorporadas no litoral paulista. Uma dessas técnicas são os cercos flutuantes, introduzidos em Ubatuba pelo Dr. Wladimir de Toledo Piza. Ele trouxe um japonês com família em Ilhabela para ensinar este tipo de pesca aos pescadores de Ubatuba, mais precisamente aos pescadores do Itaguá e Ponta Grossa. Também a técnica de arrastão. Criando uma nova concepção de captura e comercialização de pescado, conseqüentemente o início do processo de transformação das relações de trabalho. Tudo isso vira um caldeirão borbulhante com o melhoramento da rede viária nos anos 50 e desenvolvimento urbano turístico do município. É quando o lavrador-pescador se transforma em pescador artesanal. Já nos anos 60 é criada a SUDEPE que incentiva a pesca empresarial, uma vez que sua política é a industrialização da pesca. O pescador artesanal se sente prejudicado. Nos anos 70 com a abertura da rodovia Rio-Santos (BR-101) integrando várias regiões, acontece a especulação imobiliária devido o fluxo sazonal de turista/veranista em busca das paisagens naturais do município, surge aí o profissional de pesca que vive exclusivamente da pesca esse defronta com a criação de parques definida pela expansão da política de áreas preservadas da região. Atualmente a caiçarada pescadora ou não observa a expansão de estruturas que confrontam com a dinâmica de sua realidade. Principalmente quando se pontua os entraves das legislações trabalhistas e das políticas ambientais muito restritivas que são criadas e elaboradas sem levar em conta as reivindicações e necessidades dos caiçaras que de uma forma ou de outra vivem da lavoura, da pesca artesanal. Ou simplesmente viver e respirar este jeito caiçara ímpar de ser. Nós caiçaras merecemos respeito! Para tanto é necessário que comecemos por nós mesmos, abraçando o orgulho de ser Caiçara.
(Fonte: O Guaruçá)
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sexta-feira, 6 de setembro de 2013
CAIÇARADA
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