Ontem, ao chegar na minha casa, já havia uma mensagem do meu irmão Jairo: “Zé,morreu o professor Aziz”. No mesmo instante comecei a recordar os momentos que ele viveu conosco em Ubatuba, das suas palestras e das suas gostosas prosas. Inesquecível foi a sua participação no fórum que tratou das questões das terras em Ubatuba, há mais de dez anos. Depois teve outra ocasião semelhante. O ginásio “Tubão” estava lotado de caiçaras atentos às palavras do mestre tão íntimo das particularidades do nosso espaço. O nosso amigo Miguel Angel deve manter no arquivo as fotografias daquela ocasião.
Era só estar em sua casa, na praia Itamambuca, que logo ele dava um jeito de telefonar ao Domingos para combinar umas andanças. Nessas ocasiões, não se desgrudava de um bloco de anotações para registrar detalhes da nossa região. “São riquezas; dão uma pesquisa fantástica” era uma expressão corriqueira do professor Aziz, esse grande geógrafo do mundo nascido em São Luiz do Paraitinga, mas ligado à nossa terra desde a meninice, quando o pai, imigrante libanês casado com uma nativa da “Serra Acima”, exaltava o país que o acolheu, a paz dos caminhos, a acolhida dos caipiras, dos caiçaras e as incomparáveis belezas naturais.
Do professor Aziz, durante as orientações para o trabalho de graduação do Domingos, na Universidade de São Paulo (USP), ficamos sabendo que “a prova de que o litoral já foi parte de um deserto, é a presença dos lagartos, dos manacarus e de outras adaptações que permeiam o espaço da cultura caiçara”. E o que dizer das suas narrativas empolgantes de como foi admitido na universidade como ajudante de um célebre mestre, no cargo de jardineiro? Este foi o definitivo passo para a formação do maior geógrafo que eu conheci.
O professor, sempre muito lúcido e com muita inteligência, nunca deixou de denunciar as armações politiqueiras que o circundavam. Em certa ocasião, no “Espaço Cultural Nalva”, ele se mostrava indignado pela forma como, através do seu destaque acadêmico, o presidente Lula tentou, pelas vias politicamente incorretas, encaixar um de seus filhos (aquele que depois foi envolvido em “facilidades do setor de comunicação”) na USP. Para ele, “o Prouni, esse programa que está atendendo muita gente que realmente precisa, foi criado para resolver as questões das vagas ociosas das faculdades privadas. É um jeito dos empresários desse setor manterem os seus lucros”.
Também à sua irmã, a professora Nídia Nacib, igualmente professora na mesma instituição, devemos agradecimentos por trabalhos formativos à nossa atuação, na compreensão da nossa realidade. Foi quem nos auxiliou em significativo trabalho na região do Perequê-açu, no início da década de 1990.
Certamente que muitas outras contribuições virão das interessantes anotações nas restingas, costeiras e morros ubatubanos feitas pelo nosso querido professor Aziz Ab’Sáber. A ele nunca negamos a nossa grande admiração. Por iniciativa do Jairo, ele foi agraciado com o título de Cidadão Ubatubense.
Valeu, professor Aziz!
Nossos sinceros pêsames à família.
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